De todas as coisas que geram ansiedade, as viagens sempre me causaram uma inquietação. Não sei se o desejo de ver chegar o tão imaginado ou o inesperado fazia pulsar acelerado meu coração.
Ainda quando criança, costumava dormir enfiado em sapatos de couro apertado, pra não correr o risco de ficar dormindo à saída do meu pai no meio de uma madrugada qualquer.
Hoje, já não calço sapatos, estão eles a minha procura no célere trânsito a que nos impomos. Apesar das novidades prometidas, das pessoas com que nos chocamos nas esteiras e vielas, nos lugares ermos, há um brilho um tanto diferente daqueles olhos da infância, menos intenso e pueril é bem verdade, que só o coração das crianças sabe dizer.
O mundo parece ter encolhido, superlotado, num desassossego que palpita meu coração de estudante, buscando mundo afora as lições que procuro guardar, como páginas de um livro em branco a entregar ao barqueiro, cheio de linhas, nem sempre certas nem sempre tortas, para uma derradeira viagem.
Nesse intervalo me assombro com a grandeza do homem em sua capacidade de construção de palácios para seu deleite profano, de templos para adoração e purgação dos seus recorrentes pecados.

Construções escandalosas destruídas por tantos outros atos de estupidez , permeadas por guerras e genocídios esquecidos pela história. Crimes hediondos muitas vezes cultuados como epopeia de um povo nada santo.
Desfilam aos meus olhos miúdos,imagens de mongóis, romanos , islâmicos, cristãos, povos invasores tanto quanto a grande invasão a que eu agora faço parte, no momento em que piso esse sítio arqueológico a céu aberto nessa frenética Roma do século XXI.

E assim, vou compondo um ladrilho de imagens, um mosaico sob o formato de recordações, pedras, por onde tropeçamos ao longo da vida.
Vagner Bomfim