Pra minha sorte o dia nasceu luminoso e ensolarado num dois de julho icônico para todo o povo baiano.
Há quase dois séculos os grilhões da submissão à corte portuguesa foram de fato quebrados, numa terra marcada por lutas históricas pela independência, pela liberdade do seu povo e contra a servidão e escravismo.
O coração se enche de orgulho e nos transportamos para séculos atrás e encarnamos nossos ancestrais que aqui deixaram sua marca, à custa de muito sangue e de batalhas, o seu feito na história, que cada vez mais é achincalhada e rasgada nesse país.
Sobrevoo o espaço sobre a capital da Bahia, por sobre sua imensa população pobre e marginalizada. Telhados escurecidos como sua pele negra, chamuscada pelas agruras diárias, deslizando por entre suas ladeiras, ruelas íngremes e estreitas e me condoo de seus jovens imberbes à mercê da sorte.
Uma acidez Gregoriana corrói meu estômago e me enoja goela abaixo, ao ver os malandros oficiais no cortejo da Liberdade ao Campo Grande, sem que um apupo ou escarradela respingue em suas “caras de pau”.
Meus sonhos de justiça social não carecem de alimento, combustível, ou qualquer alucinógeno, mas espoucam
qual bolhas de sabão ante as investidas dessa gerontocracia e de seus quase seiscentos picaretas e asseclas instalados na capital do país, que , infelizmente, somos os responsáveis por eles ali estarem e dali cometerem os crimes maiores que adoecem aquele que um dia sonha em ser nação.
Passamos céleres por um tempo de intolerância e incertezas e perdemos no dia-dia a chance de fazer do Dois de Julho um signo transformador para a almejada cidadania, dessa terra que já foi mais que a matriarca desse país, mas o arauto de um novo tempo que se esconde hoje, apenas, entre os versos e linhas do seu hino à independência.
WBomfim
in Salvador
02/07/2016