A ditadura na Krakózia

O vento chocava-se com minha pele clara numa gélida manhã de abril com sensação térmica de quatro graus pela ruas nervosas de Amsterdam.
Enquanto aquecia os músculos na caminhada célere em  direção ao Museo Van Gogh, uma breve parada pra informação no museu de Delft, vi que ali em frente, no grande espaço de venda de souvenir,  um canal internacional de TV mostrava parte do discurso de uma representante socialista do congresso da República Brasiliana da Krakózia em homenagem ao dia mundial da saúde.

Lá, o chefe do parlamento acabara de decretar a censura, cerceava o direito de expressão, em mais um ato discricionário contra o estado de direito.
Instaurava-se na pratica uma ditadura fundamentalista de inspiração evangélico-ruralista.
Meus músculos doíam de frio, tremiam os adutores da coxa com a mesma sensação de estupor e perplexidade vivida naqueles primeiros dias de abril de 1964.
Pela televisão via-se que as galerias do congresso foram esvaziadas, impedidas de qualquer manifestação e onde apenas um discurso ecoava pelas paredes do plenário. Nas bestificadas redes sociais a propaganda maciça e repetitiva de cunho fascista apontava o iminente golpe contra o estado dito democrático, deleitando seus pobres e acéfalos consumidores que repetiam as mesmas palavras de ordem, porém sem qualquer progresso, porém sem qualquer esperança.
O vazio do discurso ou a negação dele se instaurava de vez.
As luzes antes vívidas do meu céu tropical ficaram apenas refletidas nas telas pós impressionistas de Van Gogh , de Paul Gauguin.  

Um travo amargo  percorria a boca. Olhava o relógio digital naquele instante, esperando que  o Krakoviano Nicolau Copérnico me desse o norte nessa Krakózia brasileira e estúpida,  onde eu era estrangeiro do meu próprio país. Parecia uma paródia grotesca de Spilberg, onde eu seguia apreciando as paletas e os girassóis impressionistas nesse canto do mundo chamada Amsterdam.

Caminhava depois à beira dos canais, meio jet leg, meio entorpecido, deixando que uma réstia de sol iluminasse minha face triste diante dos atuais fatos correntes na terra brasilis.
Hora de chorar as mágoas com uma cerveja “natural”  no Heineken Music Hall.
” Não queres que eu volte”



Wagner Bomfim
in Amsterdam

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  1. Franklin Passos em Análise
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