As âncoras arrastadas no mar azul turquesa.


As coisas adquiridas pelas ruas apinhadas por muita gente, pesavam na mochila que carregávamos nas costas. 
Mas, pior que os souvenires inevitáveis e insofismavelmente clichês, o corpo é que parecia um peso a se arrastar pela calçada, no trepidar das malas em direção ao metrô que nos levaria para o aeroporto de Atenas. Contudo, não foi 
difícil, dado a proximidade da estação e de posse de algumas moedas compramos os bilhetes e adentramos numa estação muito bem elaborada e conservada, que convivia lado a lado com o seu passado de história e de tantas lutas e criação, diferente em conservação desse tipo de espaço existente em outras capitais da Europa. 
Fizemos uma baldeação no terminal de Doukissis Plakentias e por pouco não paramos na estação final, por não entender o velho e bom idioma grego quando uma moradora nos alertou ser ali o destino. Alguns minutos depois seguimos rumo ao aeroporto numa comodidade e tranquilidade ímpar. Ao lado da ferrovia por onde transitava o metrô, agora de superfície, debruçava-se a mesma autoestrada que tomamos na chegada e ao fundo as oliveiras derramavam sua seiva num choro cálido de primavera.
Algo incomodava o peito, pensava. Quiçá teria sido a comida matinal, o stress dos horários sempre apertados dos voos, mas nada decifrável tal qual uma lição do oráculo de Delpho.
Chegamos ao guichê de embarque e a tarde lá fora ostentava aquele sol e um calorzinho gostoso. Um aeroporto moderno, sinalizado em duas línguas como todas as vias, cardápios e colóquio da população, que às vezes, como disse, “arranhava” o italiano ou mesmo o espanhol. 

O avião decolou no horário pra nossa íntima frustração e lá, recolhido a uma poltrona da janela da aeronave, mais uma vez a mudez me tomou por inteiro e não esboçávamos qualquer reação. Apenas os olhos fixos contemplavam o mar lá embaixo sob um céu azul.
Parecia sim e agora entendia, que as mãos crispadas no espaldar da cadeira do avião eram como as raízes das oliveiras que floresciam nas montanhas ao longe, e, sobretudo o coração, ah! o coração, parecia uma âncora arrastando-se, que insistia em aprisionar-se ao fundo daquele mar límpido de cor azul turquesa que por hora banhavam nossos olhos.



Vagner Bomfim

in Athenas

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  1. Franklin Passos em Análise
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