A metrópole São Paulo- Um Brasil atropelado

Este é um porto pelo qual sempre passo  nas constantes andanças que faço por esse país. São milhões de habitantes a correr de forma desenfreada em busca de todos os sonhos estendidos em seu frio e longo asfalto, por entre as sombras de seus arranha céus.
São Paulo sempre me trouxe um misto de medo e encantamento. 
Um medo inconfesso da solidão mortal que pudesse assomar a minha alma tão logo eu dobrasse qualquer esquina, perdido na imensidão das suas ruas, perdido em meio aos seus carros fumegantes e barulhentos. Encantamento pelas suas infinitas luzes acesas de todas as horas, luzes alimentando minhas retinas acostumadas à luz de candeeiro a querosene nas noites estreladas do sertão.

Definitivamente essa não é uma cidade quente do ponto de vista humano, pouco calorosa, antítese dos povos da latitude norte desse mesmo país, unidos apenas por uma língua milenar e transcontinental.

Os paulistanos por quem passo nas ruas ostentam nos semblantes uma automação frenética própria da capital financeira do país, “do decidir agora” , do não ter tempo a perder” e uma postura às vezes fria na prestação de serviços de qualquer natureza. O mundo é ao mesmo tempo imenso como a cidade, com suas matérias e coisas e seres, porém muito pequeno na busca por sentimentos, amores, saudades, às vezes disfarçadas na oferta das drogas e sexo pelas esquinas. O tempo passa na velocidade do seu consumo material,  é o que transparece nas vitrines, nas propagandas expostas em casas, carros e out door . 
Entre uma conversa e outra nos cafés ou nos bares o sentimento do paulistano( nascido em São Paulo) é de desesperança e de revolta com os rumos da economia do país. Há uma clara percepção dos autóctones de sustentar o resto da nação, se é que podemos falar de nação, em face de um povo que pouco exerce a sua cidadania, que a expressa apenas a cada quatro anos em jogos da seleção de futebol ou na manipulada “festa da democracia”, dia de eleição para cargos eletivos, para o deleite de sua casta política. 
O intimo desse povo, pelo que apreendi das conversas, na atualidade expressa a perplexidade pelo descaso  e desfaçatez dos seus dirigentes largamente envolvidos em tramas, corrupção e desmandos com a coisa pública , que atropelam os seus direitos fundamentais qual uma locomotiva desgovernada. 
As ruas tomadas por gente de inúmeros perfis físicos, revelando assim a feição cosmopolita de sua cidade, não nos deixa tempo sequer pra uma contemplação, fazendo-nos seguir o fluxo qual bovinos espicaçados para o próximo matadouro. Elegâncias femininas que cruzam as esquinas e meteóricos despropósitos masculinos no vestir se misturam entre “pasteis e chopps” nas tardes/noites paulistanas enquanto vou tentando desvendar essas almas que perpassam metrôs, vielas e avenidas. Entre “uma média ” e outra, o olhar desliza inconstante, quer seja no seu colorido mercado central, de peixes, de pasteis ou de especiarias quer por entre suas ladeiras e vias centrais, tomadas por ambulantes com suas falsificadas coleções, tão comuns às outras metrópoles do mundo, rica em produtos oriundos do trabalho escravo de latinos, orientais ou africanos, artífices de uma permanente exploração capital.
São tantos milhões de habitantes, são “zés” dando um “tom” nordestino nessa noite paulistana carregada de ritmos, de gostos e de uma fina garoa. Metrópole desmesurada nesse platô continental onde passeio, qual Borba Gato contemporâneo a penetrar seus mistérios, ajudando a compor essa secular história de tantas entradas e tantas bandeiras.
Vagner Bomfim
    in São Paulo

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  1. Franklin Passos em Análise
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