Este é um porto pelo qual sempre passo nas constantes andanças que faço por esse país. São milhões de habitantes a correr de forma desenfreada em busca de todos os sonhos estendidos em seu frio e longo asfalto, por entre as sombras de seus arranha céus.
São Paulo sempre me trouxe um misto de medo e encantamento.
Um medo inconfesso da solidão mortal que pudesse assomar a minha alma tão logo eu dobrasse qualquer esquina, perdido na imensidão das suas ruas, perdido em meio aos seus carros fumegantes e barulhentos. Encantamento pelas suas infinitas luzes acesas de todas as horas, luzes alimentando minhas retinas acostumadas à luz de candeeiro a querosene nas noites estreladas do sertão.
Os paulistanos por quem passo nas ruas ostentam nos semblantes uma automação frenética própria da capital financeira do país, “do decidir agora” , do não ter tempo a perder” e uma postura às vezes fria na prestação de serviços de qualquer natureza. O mundo é ao mesmo tempo imenso como a cidade, com suas matérias e coisas e seres, porém muito pequeno na busca por sentimentos, amores, saudades, às vezes disfarçadas na oferta das drogas e sexo pelas esquinas. O tempo passa na velocidade do seu consumo material, é o que transparece nas vitrines, nas propagandas expostas em casas, carros e out door .
O intimo desse povo, pelo que apreendi das conversas, na atualidade expressa a perplexidade pelo descaso e desfaçatez dos seus dirigentes largamente envolvidos em tramas, corrupção e desmandos com a coisa pública , que atropelam os seus direitos fundamentais qual uma locomotiva desgovernada.
São tantos milhões de habitantes, são “zés” dando um “tom” nordestino nessa noite paulistana carregada de ritmos, de gostos e de uma fina garoa. Metrópole desmesurada nesse platô continental onde passeio, qual Borba Gato contemporâneo a penetrar seus mistérios, ajudando a compor essa secular história de tantas entradas e tantas bandeiras.
Vagner Bomfim
in São Paulo
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