Totem e tabu – uma digressão


          O clássico ensaio de S. Freud Totem e Tabu (1913), a despeito de inúmeros questionamentos de antropólogos, filósofos e pensadores políticos ao longo do século passado pode, no meu entendimento, ser aplicado na ciência política, no ordenamento legal e modernamente à militância política.
          Longe de qualquer pretensão em analisar a obra psicanalítica de Freud, bem como também discorrer profundamente sobre ciência política, vez que me inscrevo no grupo dos militantes, desejo apenas contextualizar, sobretudo com aqueles que labutam nessa esfera profissional da psiquiatria e das ciências sociais, sobre o comportamento dos militantes dos diversos partidos políticos no nosso entorno.
          O totemismo, expressão para designar o culto ao totem, objeto inanimado, animal ou planta é o ponto inicial para encadear o discurso no presente identificando-o com o pai, o patrono ou o representante político partidário. Os princípios que norteiam o totemismo são primeiramente a proibição ao crime de morte e em segundo lugar a exogamia, princípios esses que nortearam a formação de clãs e o desenvolvimento das sociedades modernas e que foram assimilados, esses princípios, integralmente pela maioria das religiões ao longo dos séculos.

          Já o tabu na obra Freudiana expressa o componente social, a instituição e todos os seus conflitos daí decorrentes onde os indivíduos assumem sentimentos ambivalentes, de necessidade de violação, crime, da culpa daí decorrentes e da autorreferência, mantendo contudo um equilíbrio social por força da obediência aos limites impostos pelo grupo ao qual pertence e que essa sociedade impõe.
          Oportuno analisar o comportamento psicossocial das militâncias políticas quer sejam ditas de direita quer sejam de esquerda ou mesmo grupos mais heterogêneos organizados em grupos de watts app. Seus componentes, filhos de um rei, déspota, patriarca ou provedor defendem ardorosamente seus pontos de vista, cegamente inúmeras vezes, por se encontrarem ou se sentirem desamparados, sem uma pulsão libidinal poderosa que os propiciem superar suas angústias, dores e carências de uma diretriz, de uma governabilidade. Essa relação filial expressa também as diferenças e o narcisismo nela entranhada em cada postura, em cada opinião. Percebe-se que quando um desses membros destoa do comportamento tácito de fidelidade àquele totem, pai ou patrono político (negação do parricídio) ou não avançando sobre aqueles ou aquelas que seriam objeto de prazer numa sublimação das relações sexuais (exogamia) suscita no coletivo reações as mais agressivas possíveis.
          São inúmeros os relatos de que nos grupos de watts app há uma necessidade de não violação do seu totem político, uma imolação e sacralização. Aqueles que pensam divergentes inevitavelmente tornam-se impuros, assimilam o próprio tabu onde os demais não se aproximam, são isolados, como pestilentos perdendo esses o aparato sócio moral que lhe fazia pertencer ao clã.
          Os comportamentos acima são idênticos em grupos alinhados tanto com a esquerda ou direita no atual espectro político brasileiro. De antigos guerrilheiros, militares, militantes, até parlamentares de maior ou menor capital político que são a representação totêmica moderna do totem sagrado e de seus símbolos, onde aqui estamos sob o pedestal, implorando a conter as nossas pulsões mais primitivas, nossas agressividades e antipatias.
          Acima de qualquer apuro maior sobre o ensaio psicanalítico, objetivo encadear agora os fatos recentes na política local no momento em que o mandatário maior, déspota, pai, impôs, via mudanças constitucionais às aposentadorias, um sofrimento aos seus filhos , que mesmo odiando-o não se permitem criticá-lo. Nos grupos políticos dispostos na internet os seus partidários militantes políticos não cometeram o crime de morte , o parricídio, nem seus líderes políticos foram violados , a exogamia permitida e dirigida apenas aos inimigos políticos.

          Totem e tabu harmonicamente convivendo em uma sociedade moderna, mas primeva na sua essência e que caminha para a aceitação de mais déspotas, sublimando, apiedando-se na sua incapacidade de romper com a eterna renúncia à satisfação e ao poder.
Wagner Bomfim
07/02/2020

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