O erotismo dos contos de fadas

 

          Essa história de Chapeuzinho Vermelho precisa ser melhor explicada. Apelo há tempos aos amigos da psiquiatria e da psicologia pra me nortear além da coisinha pueril dos Irmãos Grimm, mas eles continuam num embate e debate interminável sobre signos, arquétipos e coisas complicadas pra meu senso comum e assim como eu os pais vão literalmente enrolando as criancinhas e criançonas, com um conto mais tortuoso que as linhas dos deuses. 

          O real significado daquela tragédia, que se faz passar por conto de fadas e que tem sido contada com uma simplicidade pelas mamães e professoras de jardim de infância nada mais é que simplesmente uma história erótica. Ahn ? Como? Por que? Sim, basta identificar a criação desse conto do século XVII e vamos lá encontrar a originalidade e a explicação pro gasto agora.

          A vida é feita de escolhas. Acertamos, erramos, choramos, nos arrependemos dos caminhos trilhados. Tudo faz parte das escolhas, felizes ou infelizes que apostamos ao longo da nossa caminhada. 

          Pois bem, na história ou conto de fadas a mamãe de Chapeuzinho Vermelho estava em verdade muito desejosa de um momento de privacidade, ou sabe-se lá, tinha coisas mais urgentes que se deslocar floresta adentro pra entregar umas comidas, dizem, pra vovó  que estava muito fraca e doente. Dou uma breve pausa pra abrir o seguinte questionamento: por que na história de Chapeuzinho Vermelho não há uma figura paterna pra cumprir com uma tarefa supostamente espinhosa como descrita? Por que essa mãe delega a uma suposta criança a responsabilidade de cuidar de uma avó doente e que mora a uma légua de distância?

          Mas seguindo o enredo original a mamãe então preparou uma cesta com amor e carinho com bolo e vinho para sua querida mãezinha( a vovó da nossa personagem principal -ela vai tomar vinho doente?). Pronta a cesta, avisa então à menina, com sua indumentária vermelha, erótica, diga-se de passagem, que não desse ouvidos a nenhum lobo passante e que portanto fosse  direto pra casa da vovó.

          Lá adiante o lobo, dito mau, tão logo a vê saltitando pelo caminho,  passa a lhe falar ludicamente de flores perfumadas, de pássaros que cantam de forma maviosa em um certo caminho da floresta, obviamente diferente daquele supostamente mais próximo e sem graça que iria dar na casa da vovó, endereço que seria fornecido pela própria chapeuzinho vermelho. Não se sabe se esse endereço fora adquirido depois de uma esperta engenharia social do lobo mau ou se foi fruto de uma bela cantada. “Fica assim subentendido”. Certo é que o lobo chega bem antes ao endereço,  adentra a casa e vupt! “come” a vovó indefesa e logo depois recebe com todos os seus encantos lupinos a menina de chapéu erótico vermelho. Fecham-se as cortinas!

          No idioma italiano encontramos o termo fodere pra designar o forro, o íntimo das roupas. Por isso usamos a expressão chula “foder” para designar maus tratos a alguém ou propriamente para o exercício do ato sexual. Não podendo usá-la sem a agressividade ou dubiedade do termo preferiu-se usar no conto de fadas  a expressão – lobo mau “comeu” a vovó e chapeuzinho vermelho e depois roncou forte.  Em verdade, o lobo mau era um conquistador com ou sem escrúpulos não importa, mas um lobo mau  que foi no intimo daquelas personagens, servindo-se como o desvirginador de mocinhas desabrochando mas também como o sedutor de vovós solitárias, acompanhando o seu repasto de bolos e vinhos como primo piato. Assim fez e uma vez saciado o seu apetite sexual, dormiu e roncou após fodere,  entre delícias e do vinho, tinto, que a mamãe lhes enviara.

          O suposto lenhador que aparece na história representa tão somente um pretendente moralmente bonzinho para essa menina que até então não havia desabrochado, e que ele, o lenhador, não tinha a permissão para qualquer investida sexual. Apenas por ali passava. Portanto, ele se vinga dessa afronta, de inapto conquistador, ritualmente resgatando as duas, neta e avó que foram “comidas” ou literalmente invadidas no seu íntimo, no caso “fodere”,  sacrificando com a “morte” o lobo mau, retirando-lhe  por fim o couro, portanto, tirando-lhe a imagem de belo e sedutor.

          À mãe de chapeuzinho vermelho restou talvez o papel da omissão, ou sabe-se lá quais complexos psicanalíticos poder-se-ia interpretar nessa relação, assim como a ausência de um pai, nesse caso talvez representado por esse distraído lenhador.

        As escolhas determinam emfim a nossa vida. Os caminhos supostamente mais ladrilhados ou cheios de pedras que se apresentam por certo irão nos fortalecer, permitindo as conquistas lá adiante ou seu enfrentamento mais digno. 

          Mas já costurei demais por hoje e é chegada a hora de sair da toca, hora de escolher, tomar muito cuidado pois preciso encontrar uma certa loba que cruzou o meu caminho há muitos anos atrás.

 

 

Wagner Bomfim


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LuaMagica
4 anos atrás

Muito boa a sua análise

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  1. Profa Me Cintia Portugal em Sempre
  2. Marirone em Sempre
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