A matemática do Bundão

 

          Confesso que nunca fui um bom aluno de matemática, pelo contrário, sempre passava arrastado, como se dizia antigamente, junto a um muro de lamentações por ter brincado demais durante o ano, entre o baba do intervalo das aulas ou perdido em devaneios olhando as saias plissadas das colegas do ginásio, hoje chamado de ensino fundamental.

          Aquelas equações dispostas num quadro negro turvavam a minha mente juvenil e eram um suplício dantesco, coisa que me levava sempre a empurrar pra depois ou acabava encontrando alivio nas leituras dos poemas do “boca do inferno” ou nos cânticos abolicionistas de Cecéu o refresco que meus neurônios precisavam.

          Tempos passados e ela, a matemática, mais enigmática que o sorriso de Monalisa ainda me atormenta pois, parece, que não consigo sequer fazer as contas básicas. Cheguei a essa conclusão depois de uma passada num boteco no Rio Vermelho onde fui comer uma carne de sol com purê de abóbora numa noite dessas, que sequer parecia existir uma pandemia, com gente apinhando o calçadão qual dia de carnaval.

          O garçom que nos atendia em certo momento conversava animadamente com o colega que questionou sobre a famiglia bozo e suas confusas contas de empréstimo, que pra ele não fechava.

– Rapá, se o cara disse que tinha emprestado 40 mil e ele tava devolveno? Eu num vô acriditá?

– Mas meu, tu tá comeno gaiva desse cara? Dexa disso!

          Óbvio que aquela era mais uma discussão política sobre o diversionismo imposto pela extrema direita onde o importante é “causar”, atingir o trending  topics do dia nessa matrix louca que nos consome. A centro esquerda, totalmente engolida pela narrativa semanal e até mesmo diária de um projeto neoliberal necrofílico, esperneia na mídia alternativa qual menino desmamado e sem espaço nos veículos chapa branca do neoliberalismo vive reclamando aos ventos, digo, justiça, dos propositais coices proferidos pelo cramulhão instalado no planalto.

k = kopenhagem ; n= rachadinha

        Ao tempo que o cramulhão ameaça covardemente esmurrar a boca do repórter, em lugar da sua empregadora, a boiada, melhor dizendo, o agronegócio ( Agro é pop, Agro tá na globo) e mineradoras vão passando, protegida pelas milícias militares estaduais, forças federais e máfias instaladas no judiciário de todos os níveis. Nessa toada vão dizimando indígenas, pequenos proprietários rurais, posseiros de décadas, com um arsenal de aproximadamente 700 mil homens armados. Com a liberação, até agora, de até quatro armas por pessoa imagine o poderio que esse exército de cidadãos de bem pode alcançar.

          Pois é, a matemática continua a me infernizar, sempre trazendo nuvens negras na minha cabeça e eu sem ver solução a curto prazo no cenário político dado a instalação do regime de exceção em que nos encontramos, que parecendo as tempestades solares que sabemos existir não é visualizada pelas lentes da centro esquerda, esse Frankenstein egoísta e vaidoso que só pensa, cada um de seus representantes, em seu número eleitoral.

x= Queiroz ; b= Micheque ; a= ativo mensal; c= lucro carros

           A carne de sol com abóbora vai se desfazendo ante a fome enquanto o desemprego sobe exponencialmente e ja vai atingindo 80 milhões de pessoas segundo o IPEA, mas que o governo nega ( IBGE – o Instituto Bozonazi de Ganhos Específicos ) dizendo que são apenas 13% da população e por conta disso some com um exército de 37 milhões de pessoas, engolidas no fosso da “recuperação da economia” neoliberal.

         Aí a matemática dá um nó de vez na minha cabeça e a única pergunta que tenho que decifrar pra prova de recuperação é;

– Bundão, por que Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da sua esposa, Michelle?”

 

Wagner Bomfim

26/08/2020

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Marirone Lima
3 anos atrás

Interessantes reflexões… infelizmente essa matemática da vida social está cheia de erros exponenciais e em progressões geométricas

Marirone Lima
3 anos atrás

Interessantes reflexões… infelizmente essa matemática da vida social está cheia de erros exponenciais e em progressões geométricas

Unknown
3 anos atrás

Nem Queiroz sabe.

Mary Portugal Makhoul
3 anos atrás

👏👏

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Comentários

  1. Neci Soarea em Análise
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