A preta e o branco 

          As chuvas e ventos na Bahia de Todos os Santos durante o mês de julho sempre geraram interrupções de serviços públicos dentre os quais  a travessia marítima para as ilhas, dessa que é uma das mais belas baías do mundo e, sem bairrismo algum, incrustada para nosso deleite na Terra do Senhor do Bonfim.

          E num fim de semana, Iansã, a orixá dos raios, dos ventos e tempestades  levantou-se imponente e soberana nos seus trajes vermelho e rosa falando a Olokun que reinaria naqueles dias sobre esse canto do mundo e sobre os destinos do seu povo.

          Um homem de pele branca entretanto desafia o mar revolto da baía de todos os santos, atracando na Ilha dos Frades  em busca da comida de santo, desobediente contudo às quizilas impostas.

          Adentra ele as dependências de um espaço privado onde, em condições normais, receberia o tratamento cordial e respeitoso destinado a todos os consumidores que ali comparecem e na impossibilidade de lambuzar-se com o acarajé de Iansã, ofende, destrata, humilha exatamente aquela que de forma sagrada constrói o manjar dos orixás.

          O tabuleiro, que não é da baiana, mas o da política, encontra nessa quizumba as condições pra mexer numa secretaria de extrema visibilidade e de recursos financeiros vultosos, com resultados eleitorais fantásticos como tem sido a Secretaria de Saúde  do Estado da Bahia. Há uma ligação intestina dessa secretaria com a ocupação no cenário político de um governo marcado pela privatização de todos os espaços públicos, onde as instituições de saúde, sua capacidade instalada, seus serviços, sua gestão, se encontram sob o controle dos mesmos atores de sempre,  há 20 anos, ou seja, as ditas O.S. , as PPP e as falsas cooperativas de saúde.

          A passagem do secretário de saúde, na grafia minúscula, foi marcada pelo distanciamento da Sesab com as representações de classe da saúde. Destituída de uma política voltada à atenção básica, com uma gestão incentivadora da prática hospitalocêntrica pelo cidadão na sua relação com os serviços de saúde, oposta aos pilares do SUS e pelo completo desprezo ao seu servidor de carreira, além do aparelhamento político escancarado das unidades de saúde e pela precarização das relações de trabalho.

          Óbvio que essas marcas são diretrizes emanadas pela governadoria e pela arena política decisória-ALBa( Assembléia Legislativa da Bahia)- atendendo a um projeto de poder expresso pelo seu governador desde sempre .Para enfatizar citaria a recente imposição, guela abaixo dos militantes da esquerda, de candidatos a cargos eletivos sem qualquer qualidade política, distantes dos anseios populares, apenas para o exercício do controle totalitário do partido.

          Inúmeros fatos depõem contra a gestão de FVB na Sesab, sendo que algumas realizações positivas em sua longa passagem  de 6,5 anos foram meras conclusões de políticas anteriores e sem uma consequência mais impactante nos indicadores de saúde do estado. Nesse particular destaca-se os níveis alarmantes de tuberculose enquanto o secretário de saúde fecha o único hospital de referência para doenças pulmonares- o HEOM( Hospital Otávio Mangabeira). Ressalva faço, entretanto, pela luta hercúlea que o gestor desempenhou ao longo da pandemia pelo Covid19 sob os auspícios de Obaluaiê.

          Hoje, contudo, terça feira de Ogum, o homem de pele branca chega à governadoria do Estado da Bahia e, politicamente,  coloca o seu cargo de secretário de saúde a disposição do governador petista. A espada de Ogum brandiu sobre a cabeça daquele que ousou desafiar os Orixás!

Wagner Bomfim 

03/08/2021