Entre cornos e Aristides

                                      

           Às duas horas da manhã uma figura pletórica, suando que nem cuscuz na panela, passara toda a semana frente ao espelho de Micheque, MiCaixa para os íntimos, ensaiando  um discurso de seis palavras para proferir a seus seguidores. 

           Era chamado de mito e ele piamente acreditava nisso. Seus  seguidores, qual o típico gado hindu brasileiro, lá no planalto central, em torno do cercadinho que o protege dos apupos populares, literalmente babava como se infectado estivesse pela brucelose.

          Notícias  vindas da gazeta mais encardida da república, como dizia  o brilhante jornalista Paulo Henrique Amorim, a Falha de São Paulo, parte importante do PIG, alardeava que uma das suas ex mulheres lhe tinha ampliado o volume de um par de cornos, mas ele, naquele momento, considerava  essa notícia insignificante frente a essa dura missão que teria que exercer na manhã daquele dia.

          Esse assunto da ex mulher já era sabido, já fora batido largamente em todas as academias militares, virou mesmo foi chacota entre os bombeiros, que açulavam a imaginação popular pelo gosto extravagante que tem certas pessoas por mangueira de bombeiros e coisas afins e diziam ser preferência da ex mulher, e segundo outras más línguas como de certo filho, fruto de umas fraquejadas sexuais. Um Passarinho me contou, passarinho que deu grandes voos pelo planalto pelo que se sabe, dizia que aquela figura pletórica era consolada nas noites quentes de verão do Rio de Janeiro,  após receber duros  golpes de judô no calor das tarefas militares. Eu é que não sei de nada, da veracidade dessas histórias, juro!

          O mito coçava  a testa, babava pelos cantos hipovitaminados da boca e entoava alguns “taoquei “ num discurso muito complexo cheios de onomatopéias e cacofonias.

          Micheque de há muito se mostrava entediada e, logo após ter lido o Deuteronômio 28 do evangelho neopentecostal, languidamente deitou-se à cama king size plus  e logo após  começara a estranhamente se contorcer,  proferindo grunhidos ininteligíveis, tipo; 

          -Terra Terra! – Aí, aí ,ai Jesus!, 

          – Possua essa carne profana, se apodere desse corpo! , coisas que nem os antigos  sanatórios que abusavam dos eletrochoques conseguiriam resolver. A coitada da Micheque, ou MiCaixa , como quiserem, tão boazinha coitada, recatada e do lar, convulsionando ali ao lado e sem assistência do mito! Um horror! Um horror!

          O mito sequer ouvia. O mito, claro, está acima dessas veleidades, penso eu. Ora, ele imaginava desfilar triunfante sobre um carro aberto ,os cornos,  a bem da verdade, não lhe permitiria esconder-se dentro de um blindado, ora se Imaginava subindo a ladeira da rodoviária e do conjunto nacional de Brasília, comendo um pastel e um caldo de cana e espargindo perdigotos sobre o gadominion do centro-oeste que lá em cima babava e pisoteava a grama da esplanada dos ministérios.

          Após sucessivos ensaios de um complicado discurso de meia dúzia de palavras deitou-se à cama, mas arrotava irritantemente às costas nuas de Micheque. Ela imediatamente lhe ordenou a  procurar um sanitário palaciano mais próximo e que por lá ficasse, pois sua ausência naquele instante não lhe faria falta. Ai Jesus! Ai Jesus!

         Após mais uma noite imbrochável, palavras dele, dado a inexistente ereção, o mito acordou, certo que teria uma entrada triunfal e vitoriosa  contra as forças ocultas (os cavaleiros negros do apocalipse do STF) que o limitava na criação de uma tirania familiar.

Um velhaco, oriundo da Escola das Américas ( Whinsec) e que acabou aportando lá para as bandas do Soleil , bairro haitiano,  lhe ofereceu carona num helicóptero por onde sobrevoaram a esplanada dos ministérios. De lá do alto se via uma concentração do gadominion que mugia, mugia, e mugindo e babando pisoteava a grama ressequida da esplanada dos ministérios.

         O mito cornudo, não sou eu que falo e com licença da palavra acima, dizem ser especulação. Ele, contudo, mostrava a face crispada e pletórica marcada pela decepção,  fazendo-o esquecer do longo discurso que iria proferir. Naquele momento conseguiu tão somente verbalizar; 

– aonde tá o pessoal ?

          Seus auxiliares velhacos ou velhacos auxiliares pouco importa a ordem, insistiram que haveria outro  pasto a percorrer, que haveria uma concentração maior do gadominion, mas ele só conseguiu vociferar palavras tipo; 

-“ temos que jogar nas quatros linhas”, interrompido por uníssonos de mu, digo, mito,mito,mu!

         Os cornos brilhavam ao sol e as faces azedas dos “azeitonas “ ao lado eram muxoxos, apenas muxoxos!

          Logo depois conseguiu descer frente a uma rodovia quando em certo momento uma passante, conforme a SS tupiniquim declarou, teria lhe desferido um projétil , verbal, que lhe foi atingir diretamente os ouvidos. 

-Noivinha do Aristides!  Noivinha do Aristides! Aquilo penetrou surdamente, ecoou, ficou zunindo dentro da cabeça, um enjoo foi aparecendo e tudo foi ficando escuro. Noivinha do Aristides! Noivinha do Aristides! O mito não conseguia mais memorizar o longo discurso de seis palavras. Queria dizer algo compreensível, mas a voz rouca balbuciava;

– Sras. noivinhas, taoquei. – É isso aí Aristides! – Aristides acima de Deus! 

Ele suava frio, a pele estava completamente lívida, tremia os lábios e uma baba escorria pela boca. O mito desmoronava, sentia que precisava dar uma passadinha no sanitário. Precisava arrotar!

         Lá, ainda resmungando, espumando pelos cantos da boca, rosto tomado por suor, se perguntava por que as pessoas ficavam reclamando dos gastos que ele e a família tinham com  o cartão corporativo. 

– Que atrevimento!

A terapia Junguiana estava longe de acabar!

Ai, ai, Aristides!

29/11/2021

P.S. Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos terá sido mera coincidência.

P.S. -A homofobia foi equiparada pelo STF em 2015 ao racismo conforme a Lei Nº 7.716/1989 .

        -7,5% da população brasileira se assumem como pertencentes a LGBTQIAP+ .

         – A violência homofóbica mata 01 pessoa a cada 26 horas ( Grupo Gay da Bahia/2019).

         – 75% dos crimes homofóbicos ficam impunes ( IBDFAM- Instituto Brasileiro de Direito de Família).

        – 55% da população LGBTQUIAP+ sofre de depressão em todas as suas variantes.

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Mari Gouveia
3 anos atrás

Adorei. Ri à beça. Ele pensa que sairá impune desse desgoverno, não tarda por esperar

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Comentários

  1. Neci Soarea em Análise
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