As ruas de Viena em plena manhã de domingo estavam cheias de turistas embevecidos pelos suntuosos castelos e monumentos perto da Kartner Strasse.
Nosso olhar contudo desviava-se daqueles símbolos de realeza e poder, voltando-se para além de suas fronteiras, se deparando nos personagens que pouco a pouco invadiam a praça Der Grabem.
As bandeiras da nação Síria tremulavam sob um vento frio seguidas logo após pelas bandeiras do Egito, aquecendo toda a praça e envolvendo-nos naquele protesto que denunciava a morte de centenas de milhares de pessoas.
Seres humanos antes invisíveis para muitos que por ali transitavam mas que agora era alvo dos olhares acostumados à opulência e nobreza, inúmeros homens e mulheres oriundos de uma jornada de fome e de frio desde o norte da África e de parte do oriente médio.
O processo migratório escandalizava a todos pela exposição de dezenas de fotos de vítimas daqueles regimes ditatoriais, bem como fazia sangrar a omissão das grandes potências mundiais, estas, a esperar apenas o desfecho do conflito armado para tão somente repartir o espólio pós guerra.
A música ritmada e o tremular das bandeiras, despertava a atenção dos olhares, de corações e mentes frente aqueles invisíveis personagens tal qual o imigrante garçom de procedência turca que transitava nervosamente entre as mesas.
Um gole de café descia pela garganta abaixo, quente, amargo, tal qual a expressão estampada naquelas faces, denotando abatimento e sobretudo expondo as marcas de humilhação própria daqueles seres humanos expatriados, ali a um simples aperto de mão.
É preciso resistir. Sempre!
Wagner Bomfim