Certa feita, travei uma boa discussão com um amigo jornalista acerca do compositor Carlinhos Brow, muito além da sua atuação no cenário musical, fazendo um contraponto, crítica, sobre sua postura frente à música baiana, frente a sua cidade natal..
Convém inicialmente concordar que é inegável as suas qualidades musicais, sua criatividade como compositor, mas, naquela oportunidade, questionava não ser o bastante tais atributos, de apenas aparecer semi nu em cima de um trio elétrico ou num show no Rio de Janeiro, tentando passar a imagem para o resto do pais que a cultura baiana, se é que podemos assim chamar, de algo inusitado, descontextualizada do seu difícil momento de contradições econômicas e sociais.
Certo é que, depois de Dorival Caymmi e de João Gilberto, icones da musica baiana e internacional, que cantaram uma Bahia bucólica desde o pós guerra encantando o Brasil e mundo, seguidos das vozes resistentes dos Tropicalistas Gil, Caetano, Gal e Bethânia e dos Novos Baianos à luz dos tempos da industrialização e da expansão do capitalismo nacional, em plena ditadura militar, pouco se viu em termos culturais que viesse a expressar com magnitude essa nova Bahia, urbana, conflituosa e empobrecida pelos seus coronéis políticos, relegando sobretudo a população negra a ocupar bairros pobres e favelas, tendo os sons dos atabaques submetidos à opressão econômica, cultural e religiosa.
O compositor Carlinhos Brow, dentre outros representantes do Axé Music, assim mesmo com essa nômina inglesa, estrangeirismo oportunista, veio a se sobressair na vã tentativa de reviver uma Bahia que não mais existe. A maioria desses representantes do Axé são parte ou peças de uma engrenagem do mercado fonográfico e do entretenimento pontual, quase que restrito ao carnaval elitizado dos camarotes, vide a supremacia dos cacos de telhas e outros pequenos grupos, que nos obrigaram, via “jabás”, a consumir suas musicas pautadas em pobreza literária, porém ricas em fonemas tipo aê, aê, lá rá la,iê,iê!, durante anos e anos a fio.
Aos representantes do Axé Music, sua maioria, não cabem isentar-se da grave situação de miserabilidade em que se encontra seu povo, sobretudo o baiano dos morros e das favelas, tal como citou esta semana o Sr. Carlinhos Marrom, numa apresentação musical dizendo: -“eu sou o Brasil que deu certo, não me meta nisso daí, não quero nem saber de política, só se for de politica cultural”. Ignorância ou proposital sua fala? Como se politica cultural fosse dissociada da politica de governo, de estado, de uma nação.
Aí, novamente, reitero minha crítica, que alguns isentões dirão ser patrulhamento ideológico, a este senhor. Tal qual teria dito certa feita o grande pugilista americano e ativista racial Muhammad Ali ( antigo Cassius Clay) sobre o posicionamento publico do ex-jogador de futebol Pelé, de que o mesmo não respeitava, com sua postura, o povo negro, que se omitia sobre o racismo, que não honrava a sua raça.
Nos morros e favelas da cidade de São Salvador os atabaques percutem um som de lamento, chora lentamente, clama por Xangô, enquanto lenta e desesperadamente o Sr Carlinhos Marrom tenta se equilibrar nas teias da Rede Platinada, vendendo sua voz em troca do seu emprego, enquanto o povo negro “bate o ponto para os nossos Orixás”.
Não se cobra, a bem da verdade, filiação partidária de absolutamente ninguém, mesmo por que estes partidos do nosso sistema politico são controlados pela elite burguesa, pelos eternos escravocratas, mas, sobretudo, se pede respeito ao povo brasileiro, à população negra, além de coerência com sua própria história.
O Brasil não deu certo senhor Carlinhos Marrom, com certeza! O Brasil não dará certo enquanto não resgatar sua estima, sua cidadania, corrigir seus erros históricos de escravidão e opulência de séculos. Opulência essa que o senhor louva em programa de calouros aos domingos na Vênus Platinada
👏🏽👏🏽👏🏽 Ele caiu no meu conceito
Belo texto Wagner, não satisfeito com o Music acrescentou ao próprio nome Brow. Americanizsado procura negar suas próprias origens. Bom de propaganda ele é. Quantos iguais ou melhor do que, negros, não tiveram oportunidade aqui na Bahia?
Parabéns Wagner
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