Pensou em telefonar, mas a operadora informava que o telefone estava fora de área ou mesmo que estava desligado e pra sua indignação ficou assim resmungando entre dentes.

Era muito importante naquele dia dizer do seu sentimento, mas como falar qualquer coisa se nem as companhias telefônicas ajudavam?

Nesse conflito teve então a brilhante ideia de mandar um telegrama, mas imediatamente pensou;

-Ninguém mais manda telegrama, nem o próprio Correio. Carta então, nem pensar!

Só Tenório, seu parceiro de carteado é que colecionava aqueles envelopes enormes, de bordos coloridos, vindos de um amigo longíquo lá da América do Norte ( coisa antiquada essa do parceiro Tenório de chamar os Estados Unidos de América do Norte) e, além disso, uma carta  nos dias de hoje custaria uma fortuna além do que nem chegaria a tempo. 

O dia é hoje, amanhã terá passado o impacto. O papel vai amarelar sob o tempo da amargura, não vai estourar fogos de artifício em nenhuma tela do computador. Hoje não, seria único, nenhum contratempo, seria inusitado. Hoje a mensagem ,por certo, chegará quente,como um pão recém saído do forno, inebriando os sentidos.

Tonico estava com um drama, pois era o Dia do Amigo e ele não conseguira enviar uma mensagem sequer até o momento em que os computadores da empresa em que trabalha, que tilintavam mensagens de amigos distantes, amigos virtuais , além de falsos amigos, parasse de funcionar, como um apocalipse da internet.

Esses falsos amigos, malware, devem ter sido a causa da pane, do travamento da rede, pensou.

E lá estava Tonico, no meio da praça, olhando pra cima, como se fosse vítima de um incêndio predial, com aquele queimor no peito que lhe consumia a alma, ardente!

Que fazer pra dizer que sua atenção era importante? Que mesmo nos dias em que cansado e zangado, ele, o amigo, sempre o recebia sem nada falar. Apenas e tão somente ele estava presente em qualquer infortúnio?

Tonico de Meucci andou várias quadras, imerso em seus pensamentos. Lá pelas tantas pensou até em contratar um aeroplano, mas daí pensou; 

-Isso seria muito cafona. Vai que acham estranho uma declaração assim no meio das nuvens, eu heim! 

Andou, andou e rodou tanto, tanto,  que se viu frente a uma porta de madeira. Automaticamente apanhou uma chave qualquer no bolso conseguindo abri-la. 

Logo, de chofre, escancarou um sorriso quando viu seu amigo ali parado à sua frente. Percebeu na hora que esse, com certeza, não precisava de nenhum forma de comunicação pós Graham Bell. 

Seu cachorro estava ali, à sua frente, abanando o rabo. Ali estava pra lhe desejar um feliz dia do amigo!

Wagner Bomfim

 Em homenagem a um grande amigo- o animal de estimação.