SUS, Pandemia e Sobrevivência

SUS, Pandemia e Sobrevivência

O SUS, nosso Sistema Único de Saúde, teve um grande desafio na Pandemia e saiu-se muito bem.

Embora o Brasil tenha taxas de letalidade quatro vezes maior que a média mundial, isto não pode ser creditado ao SUS.

O SUS foi responsável pela abertura de 90% dos leitos de COVID 19 no Brasil, foram leitos extras em unidades já existentes, transformação de leitos em leitos COVID e abertura de novos hospitais, como os de campanha. Só na Bahia foram abertos 1.600 leitos de UTI na rede SUS.

O SUS também foi o responsável por vacinar o povo brasileiro do Oiapoque ao Chuí, nas grandes cidades e nas zonas mais remotas, em “drive thru”, mas também em lombo de jegue e em canoas.

Como dirigente do primeiro hospital da Bahia dedicado a COVID 19, o ICOM (Instituto Couto Maia) que iniciou atendimento a esta doença no dia 23/03/2020, vivi de perto o horror, e tive a honra de comandar uma equipe dedicada e competente, que não mediu esforços para fazer protocolos de assistência, de biossegurança, de higienização, entre outros. Vivemos o caos de ter engarrafamento de ambulância na porta da unidade, da chegada de um galpão frigorífico para conservação de corpos, de passar de 20 leitos de UTI para 90, de ver numa única noite, a internação de 22 pacientes graves em nossas UTI’s. Mas presenciamos também a alegria das famílias, ao virem receber seus entes queridos de alta, a solidariedade de pessoas, empresas, instituições as mais variadas. Vivi o horror de perder um dos nossos para COVID, mas a honra de salvar milhares de vidas.

Os trabalhadores da saúde, muitos mal remunerados, arriscaram suas vidas, não tiveram isolamento ou trabalho virtual, estiveram e estão em cada unidade de saúde, em cada casa, atuando e levando informações sobre prevenção e promoção da saúde do povo.

A plasticidade e a capilaridade do SUS foi espantosa, chegando a lugares muito remotos e em locais que nunca antes tinham recebido uma UTI. Mas tivemos que lidar com o negacionismo da doença, da vacina, com o boicote as medidas de isolamento pelo primeiro mandatário da nação e pelo Ministério da Saúde do Brasil. Não tenha dúvida que isto custou muitas vidas. Cientistas entendem que pelo menos 1/3 (225.000) das 676.000 mortes teriam sido evitadas se o Brasil tivesse lidado com a Pandemia de forma séria e responsável. O Ministério da Saúde fez um rodízio de ministros e uma troca dos quadros técnicos de mais de 30 anos, por fundamentalistas de várias ordens. Teve um desempenho pífio, quando comparamos com as epidemias de H1N1, Zika vírus e com a pandemia de hiv/aids, considerada das melhores respostas do mundo.

O SUS se fez presente e passou a ser respeitado pela população, mas não nos enganemos, seus algozes estão muito acordados e doidos para manter e ampliar os cortes de recursos, para transformar o SUS num plano de saúde “barato”, para enriquecer alguns poucos e retirar direitos do povo brasileiro.

Precisamos eleger em outubro, um projeto de país que priorize a maioria da nossa população, que reconheça o SUS como um sistema indispensável e que precisa de financiamento e gestão adequados.

Precisamos eleger deputadas estaduais e federais que sejam vozes ativas na defesa do SUS, da saúde e dos trabalhadores da saúde.

Ceuci Nunes – Dra. em Saude (UFBa); Prof. da Escola Baiana de Medicina; Ex- Diretora do ICOM.

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Paulo Almeida
Paulo Almeida
2 anos atrás

Excelente trabalho Ceuci. Tenho admiração por sua dedicação ao trabalho, especialmente àquele associado ao Couto Maia X Covid-19. Forte abraço.

Marcia Maria Pedreira da Silveira
Marcia Maria Pedreira da Silveira
2 anos atrás

Seu trabalho é admirável Ceuci.

Lorena
Lorena
2 anos atrás

Excelente discussão. O SUS é uma preciosidade. Que possamos cuidar bem dele, para que ele cuide do seu povo.

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Comentários

  1. Franklin Passos em Análise
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