A natureza foi pródiga com Salvador, dotando-a de excelente topografia que permitiria aos órgãos públicos melhor destinação de seus recursos naturais, em particular aqueles resultantes da sua geologia escarpada originando vales e abundantes cursos de água doce a partir dos diversos locais de afloramentos do lençol freático.
Aliás, em função disso e da Baía de Todos os Santos, Salvador tornou-se o melhor e mais importante sítio portuário do atlântico sul por mais de um século. Infelizmente, o espaço geográfico soteropolitano, da pequena trincheira da colônia, foi sendo ocupado e expandindo sucessiva e dinamicamente em direção norte, sul e leste da cidade, provocando fortes impactos ambientais pelo desmatamento indiscriminado para construção das vias de acesso e dos inúmeros imóveis, e por ocupações de loteamentos legais e ilegais que continuam crescendo em função da densificação demográfica. O resultado é a destruição das áreas verdes, a contaminação dos aquíferos por dejetos humanos e da construção civil, e pelo lixo urbano e industrial.
É nesse triste cenário que podemos destacar o outrora pungente Rio Camarajipe, cujo manancial, com a criação da Companhia do Queimado, era a represa de uma das nascentes daquele rio, que produzia 20 mil m³/dia distribuídos por vinte e um chafarizes, com a finalidade de abastecer a cidade do Salvador.
Conforme publicado por Francisco Chagas Filho (https://issuu.com/chicochagasfilho/docs/o_rio_camarajipe_est___doente_Acesso em 29/07/2022) o Rio Camarajipe está doente, acrescenta ainda que “contrariando as expectativas, o Programa Bahia Azul em vinte anos não consegue cumprir o objetivo precípuo da despoluir a Orla Oceânica e a Baía de Todos os Santos”.

A despoluição desse rio é complexa, mas possível desde que sejam promovidas e efetuadas ações tecnológicas, educativas e socioeconômicas com o objetivo de alcançar salubridade ambiental, melhoria dos índices de educação e empregabilidade, envolvendo as comunidades do seu entorno, conclamando-as para mudança de hábitos prejudiciais e aquisição de conhecimentos sobre a importância de boas práticas de saneamento. Essas atividades são importante fator de expansão do turismo, sendo por isso mesmo uma conquista para a saúde e qualidade de vida das populações ribeirinhas, para o clima, e para o ambiente como um todo, proporcionando bem-estar para toda a sociedade soteropolitana.
Membros da nossa SOS Camarajipe aprovaram recentemente o projeto “Revitalização da Bacia Hidrográfica de Salvador” junto ao Ministério do Desenvolvimento Regional, o qual visa promover o desenvolvimento sustentável e estabelecer critérios para a recuperação ambiental, replantio de espécies vegetais e/ou arbóreas nativas visando recompor o aspecto paisagístico na região metropolitana de Salvador e restabelecer a balneabilidade e os ecossistemas marinhos, devolvendo a qualidade de vida para a população e o turista. A sua execução também promoverá o Desenvolvimento e a Difusão da Ciência e Tecnologia, através da implantação de plantas modelo (ecousina, centro de cuidado de animais e crematório, compostagem e biodigestora) sustentáveis e biorremediação acoplada à tecnologia de emissão de luz, reflorestamento, criação de viveiros, aquaponia e da utilização de bioindicadores com a participação da população local. Prevê também a formação de multiplicadores e gerentes técnico-ambientais da própria comunidade a qual terá importância fundamental para minimizar os impactos causados pelos efluentes domésticos e industriais lançados de forma irregular, devolvendo qualidade de vida à população próxima às áreas de intervenção.
As ações socioeducacionais desse projeto proporcionará um relevante legado às futuras gerações e toda a infraestrutura alocada necessitará de sua perene conservação e introdução de novas tecnologias, gerando sustentabilidade e sua replicação é outra importante estratégia a ser considerada ao longo da parceria, tanto pelo ente público como o privado, sendo de fundamental importância para a capital da Bahia, a maior do Nordeste, de onde existem vários outros rios, alguns interconectados, ora igualmente degradados, inclusive na grande região metropolitana de Salvador, que abrange os Rios que desembocam na Cidade de Lauro de Freitas, como por exemplo, levando dejetos e lixo, inclusive para suas praias e o oceano.
Finalmente, a execução desse projeto trará um novo cenário para a recuperação da bela topografia natural de nossos vales, da riqueza hídrica e beleza paisagística, embasados na aplicação dos conceitos de saneamento socioambiental, biorremediação, e sustentabilidade, em toda a extensão do Rio Camarajipe sendo, por isso, motivo de muita comemoração para nossa cidade.
Paulo F Almeida (Prof. Titular de Microbiologia da UFBA) e SOS Camarajipe Limpo
Projeto muito importante e bem articulado, com uma ótima abordagem ambiental, socioeducativa e econômica, o qual irá melhorar a qualidade de vida para toda comunidade que , com certeza, será beneficiada com a despoluição e poderá desfrutar de um rio limpo.
Salve o rio!