No WhatsApp…
          – “Bom dia, Dr.! Tudo bem? Meu cunhado tentou marcar uma consulta e sua secretária relatou que só poderia realizar com o cartão de vacina com a segunda dose. O mesmo não tomou vacina e eu queria muito que ele passasse pelo senhor. Ficarei no aguardo se libera ele ir para sua consulta sem o cartão de vacina.”
          Em mensagens no WhatsApp, muitas vezes somos brindados por pérolas, piadas e parangolices. Vídeos e áudios que surpreendem pelos impropérios e pela audácia sem limites. Provas cabais que o mundo é um grande mix de manicômio e cabaré.
          Parece um evento cíclico que, em momentos mais turbulentos, uma enxurrada de notícias e carniças nos é apresentada. E a depender de quem envia, podemos saber e conhecer a verdadeira essência dessas pessoas.
          Mamadeiras fálicas, kit gay, bonecas trans, vídeos sobre políticos e partidos, movimento antivacina, cloroquina, ivermectina e ozonioterapia, enfim, um arsenal de maluquices que as pessoas acreditam como que um encantamento digno do Flautista de Hamelin, dos Irmãos Grimm. E as pessoas, outrora tidas como interessantemente inteligentes e informadas, decepcionam-nos de forma chocante.

          Mas o que está acontecendo com esse planetinha azul? E essa convulsão social tem algum significado? É um caos típico dos períodos de mudança? A idade contemporânea está com os dias contados? Já é a idade extemporânea, desprovida de razão? Que louco mundo é esse?

          -”Nasceu com o dom do riso e com a impressão de que o mundo era louco”.

          Essa frase me marcou a infância, quando eu assisti a um filme (remake) da década de 50 sobre espadachins na decadente França, antes da Revolução Francesa. Retratava a luta de Marcus Brutus, pirata literário que combate com seus panfletos a decadente aristocracia da França. Um revolucionário que termina sendo covardemente morto por um exímio espadachim que era, além de primo da rainha Maria Antonieta, uma espécie de macho alfa, “hétero top” e metrossexual.

          A arte não só imita a vida como faz profecias. Os Simpsons, Akira, Apocalipse (o da Bíblia) que o digam! E Scaramouche, do livro de Rafael Sabatini, transformado em filme, retrata a luta de classes, mandos e desmandos dos donos do poder e a cultura que respira através de aparelhos, desde aquela época. É sobre um herói, acolhido por uma companhia de teatro mambembe, que se transforma em astuto e debochado esgrimista, fazendo de seu sabre um implacável instrumento de justiça. Atrás da catedral, às 6! En garde! Um, dois, doublé! Um, dois, doublé! Êta, se dependesse da vontade!

No WhatsApp…
          -“Olá, boa noite!
Sobre a consulta: Realmente, existe uma orientação à recepcionista, passada e reforçada por mim, sobre a necessidade de comprovante atualizado de vacinação. Essa conduta é pessoal e garantida por princípios norteados pelo Código de Ética Médica e não poderá ser flexibilizada. Não seria sensato abrir uma exceção a este ou aquele paciente. Infelizmente, não poderei atender a seu cunhado se ele não estiver devidamente vacinado. Espero que entenda o meu posicionamento”.
P.S.: Você sabe alguma coisa sobre a varíola dos macacos?

Touché!

Franklin Passos.

Médico, Professor Universitario, Enólogo.