Mãe Stella de Oxóssi e o Dia de Iansã!

O monumento que se destaca no início da Avenida Mãe Stella de Oxóssi, no bairro de Itapuã, amanheceu no ultimo domingo, dia 4 de dezembro, dia reservado à Orixá das chuvas e tempestades, Iansã, semi destruído por um ato terrorista. 

Sim, digo ato terrorista, diferente das três linhas postadas no Twitter pelo prefeito testa de ferro de ACM Neto, que classificou a violência como simples vandalismo e assim sendo relativizando esse crime. Crime esse como outros que se apresentam na atualidade como um ato terrorista que de fato é. Igual a tantos que espoucam país afora, assulado pelo comportamento protofascista do governo que foi derrotado nas urnas, tendo o inominado presidente como incentivador das manifestações protagonizadas por inconsequentes vestidos de verde e amarelo a ocupar as vias públicas, postando-se à frente de quartéis ( não se enganem pois são financiados pelos próprios militares e pelo agronegócio de extrema direita) e de monumentos outros, sob a insuspeita tolerância dos órgãos de segurança e do aparato judicial, simpáticos a essas teses antidemocráticas. 

Há muito tempo a Bahia tem convivido com manifestações preconceituosas contra as religiões de matriz africana. Exemplo disso tem sido a violação de espaços sagrados para o Candomblé no Parque São Bartolomeu, espaço esse de resistência da comunidade negra desde o século XIX, quilombolas históricos que preservaram e preservam a Bacia do Cobre, um reservatório aquífero que já foi mantenedor do abastecimento de água para o subúrbio da capital e que hoje é uma das reservas ambientais mais belas da Baia de Todos os Santos, motivo portanto de cobiça da iniciativa privada, sobretudo imobiliária. Outros exemplos de intolerância religiosa foram perpetradas contra as comunidades negras em passado recente, como as diversas invasões aos Terreiros de Candomblé ocorridas desde os tempos do prefeito João Henrique Carneiro só pra referenciar certo tempo.

Monumento a Oxóssi na Avenida Mãe Stella de Oxossi em Itapuã.

Poderia até atribuir essa violação como fruto da intolerância religiosa de protestantes cristãos, praticamente destruindo uma obra de arte que tão bem representa a religiosidade e cultura da Bahia no monumento a Oxóssi localizado ali no início da avenida e circundado ainda por brancas dunas do bairro de Itapuã. Contudo, seria leviano assim afirmar, vez que não tenho as provas, mas, esse comportamento tem sido repetido ao longo dos anos e vem sendo incorporado culturalmente por esse parcela fundamentalista religiosa, ( ver as tentativas de renomear a Lagoa de Abaeté ) mas, creio que o momento político empodera esse segmento religioso, apoiadores em grande parte de pautas defendidas pelos  representantes do protofascismo nacional e que continuam impunes aos desmandos praticados.

É de se esperar do poder público atitudes, muito além de mero lamento pela destruição do monumento a Oxóssi. Se faz oportuno significar a religiosidade afro-brasileira representada também em seus monumentos como elemento da cultura, da história e do turismo, que são vitais para a economia da cidade de São Salvador. 

Promover em todas as instâncias de governo políticas públicas que fomentem uma cultura de preservação, de conhecimento e resgate da história dos nossos antepassados e dos seus costumes já incorporados no nosso dia a dia é colocar a primeira capital do Brasil como símbolo de cidadania, de desenvolvimento sobretudo num setor onde ainda somos muito carentes de retorno econômico financeiro, no caso o turismo religioso. 

Não podemos ceder ao avanço de atos de terrorismo da extrema direita político religiosa que transformam todos os espaços dessa negra África brasileira chamada de Salvador em novos e sangrantes Pelourinhos. 

O machado de Iansã não pode tardar em cobrar a devida punição para os intolerantes religiosos,  terroristas  que rondam as nossas portas assim como não podemos admitir que as autoridades públicas sejam permissivas, que estas assumam suas efetivas responsabilidades com o povo de santo e a maioria da sua população negra.

Eparrey oyá!

Wagner Bomfim

04/12/2022

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Franklin Passos
Franklin Passos
2 anos atrás

Mais um ato covarde de intolerância religiosa que não pode ser normalizado, como violência comum. Que os criminosos sejam punidos!

Neci
Neci
2 anos atrás

Tempos difíceis. A destruição da cultura é alimento para os facistas.
Que Pais é este!!!

Gustavo
Gustavo
2 anos atrás

Nós que moramos nas rendondezas…e que não fazemos parte de nenhum dos grupos protagonistas (sejam as vitimas, seguidores da fé de matriz africana, seja os terroristas intolerantes evangelicos) ficamos cada vez mais abismados com essas atitudes, nos sentimos ultrajados, impotentes e inseguros diantes dessa covardia que não é de agora, inseguros principalmente ao ver a falta de rigor do Estado. Quando inaugurada a Avenida o mesmo grupo que hoje vandalizou o monumento fez um abaixo assinado para mudar o nome, este mesmo grupo luta diariamente para renomear a Lagoa do Abaeté, este mesmo grupo usa uma religiao cristã milenar, para manipular seus fieis e agora eles pregam que as dunas sao sagradas, estao batizando as dunas, tornando-as montes sagrados do espirito santo para embasar suas requisiçoes estapafurdias. O Estado brasileiro parece que tem medo da Igreja. Nao somos uma Teocracia (Graças a Deus) pois isso não quer dizer que a naçao seria mais proxima a Deus e sim que seria intolerante, ciclopica e fanatica. Até quando o Estado vai se calar? Direita ou esquerda no poder, com ou sem apoio protofacista, o assunto é grave e antigo. Até quando?

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  1. Franklin Passos em Análise
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