O ano de 2038 começara quente e o brasileiro recém saído de um plebiscito sobre a utilização de energia eólica em regiões agriculturáveis estava em um pavoroso embate ideológico.
Dado a baixíssima produção agrícola no entorno das usinas eólicas, condição que expunha as populações à falta de alimentos e por conseguinte a quadros de desnutrição, similar ao ocorrido décadas passadas na antiga floresta amazônica quando a exploração do solo e subsolo destruiu parte considerável das terras nativas e dos seus povos primitivos, a ordem do dia no verão em curso era a batalha entre os defensores da “ boiada “ contra os “revoltados on line”.
Havia uma guerra híbrida entre adeptos das ideologias de extrema direita e a classe média afinada com a centro esquerda para disputar os lugares que seus suseranos ocupavam. Sim, eram suseranos das camarilhas altas e baixas de Brasília com ramificações profundas nos estados, antigos feudos do que modernamente chamavam de estados da federação. Era um frenesi que elevava os desejos de repressão aos vassalos das diversas castas( muito parecido com a Índia) até a insanidade como ocorrido no Dia do Golpe.
À classe média “politizada” cabia naqueles dias usar os seus Right PlayStation, tentando inocular no seu adversário político, um locus gen deletery para que seu suserano mor, ou se preferir, o salvador da pátria, viesse a ocupar uma cadeira em uma das camarilhas. Assim, todas as suas angústias pós Prozac, Quetiapinas e Chás Ayahuasca seriam revertidas após ouvir engalanados pronunciamentos midiáticos dos suseranos cyborg para os veículos de comunicação controlados pela grande elite financeira.


Curare! Curare! Curare! Gritou o representante da Web-Left após conseguir uma inoculação de um megabyte de strychnos na rede da Web-Right.
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No passado longínquo, lá pelas últimas décadas do século XX, o povo ia para as ruas em manifestações efusivas, para brigar por certos direitos tais como; trabalho, saúde e educação. Antes, cuidavam do corpo em unidades repletas de aparelhos e cápsulas de imersão para preenchimentos químicos epidérmicos e para destruição das liposidades com bombas de raios multifrequenciais, assim conta a história, nem sempre eficazes é bem verdade.

A transformação era tamanha que umas saiam das cápsulas no estilo barbie voluntariosa, lábios avantajados parecendo plantas carnívoras, e outros espécimes faziam o tipo siris anabolizados e inevitavelmente “brochados” segundo as referências históricas.

Essa performance era sucedida por educação ER * em unidades pouco saudáveis chamadas de escolas tóxicas, onde se ministravam cursos de desigualdades, destruição dos povos e de gêneros ( ainda existiam homens, mulheres e outras desinências).
Suas aglomerações nas avenidas e ruas eram chamadas de “expressões culturais como bases da democracia” segundo um iluminista togado com suas bochechas rosadas por blush, partícipe de um tribunal da época. Naquelas expressões culturais todos iam fantasiados com suas camisas e roupas vermelhas, iguais àquelas dos tempos da revolução francesa, outros usavam roupas de gosto duvidoso em verde e amarelo ou pretas, iguais àquelas usadas nos levantes fascistas de 1930 e 2013, tudo isso para se fazer ouvir na imprensa. Sim, existia algo que eles chamavam de imprensa, uma coisa inventada séculos antes, onde se liam os chamados editoriais remunerados, em papéis pardos, material extraído das extintas árvores da mata Atlântica, coisa bastante primitiva e fantástica. Outros, marginais da informação, criavam páginas personalizadas, feeds e mensagens curtas para se fazer ver ou ouvir num mundo de informação célere. Naquela época existia apenas alguns controladores das notícias, da educação e do dinheiro e que detinham esse poder de expandir a informação. Não havia um mecanismo de verificação eficaz da realidade e portanto a guerra era nas ruas, povoadas pela classe média financiadora do sistema político econômico, que, por conta disso, óbvio, mantinha esse mesmo sistema de dominação de classe sobre os vassalos do século XXI. Coisa linda de se ver, contam as bibliotecas libertárias do Catar e da Pérsia!
Após a hecatombe da informação de 2029 quando a AI ( inteligência artificial )sofreu um bloqueio ionotrópico catódico negativo nos seus algoritmos, a disputa entre as antigas correntes ideológicas de direita e esquerda passou para as ruas virtuais. Bem ao gosto de um pseudo cientista político saído de um extinto partido político que tinha a logomarca de foice e martelo, que defendia abdicar da revolução dos vassalos do século XXI por uma batalha cibernética feita pela classe média usuária de espumante Pro Seco da Chapada Diamantina, de propriedade de um suserano conhecido. Essa classe revolucionária pós hecatombe não dispunha de tempo para trabalhos braçais e necessitava por demais do apoio da vassalagem nas suas atividades domésticas diárias enquanto se ocupavam de mudar o mundo.

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Curare! Curare! Curare!
Precisamos de um abaixo assinado pra reverter esse plebiscito! A direita criminosa me feriu com um megabyte de strychnos, precisamos ir para as ruas! Precisamos ir para as ruas! Estamos paralisados, sem ar! Tenho um boot ionotrópico catódico em curso!
A esquerda está toda paralisada, o acesso às ruas está bloqueado! Precisamos de um by pass político urgente!
Curare! Curare! Curare! avisava o RightPlayStation.
A voz metálica de Lux perguntava; Meu guru! Será que não é preciso voltar a ocupar as ruas de Tirana ?
Zzzxxxxzzzxxxxzzxxxzxxxzxxxzzzxxxx!
Wagner Bomfim
11/02/2023
Obs: ER – educação baseada nos métodos ER tipo YouTuber , Twitter , Tik Toker, Tinder
Essa é uma obra ficcional. Pessoas e situações são mera coincidência.