O carnaval da exclusão

( ou o pagode da baixaria )

Após três anos convivendo com uma pandemia, aqui no Brasil agravada pela omissão e irresponsabilidade do governo do genocida Bozo, os brasileiros e sobretudo os baianos, ansiavam pelo maior carnaval do planeta. Assim dizia a propaganda oficial.

Mas, parece que o longo período sem essa festa popular não foi o bastante pra que os atores envolvidos nesse espetáculo, no caso os músicos, os produtores culturais e os Governo do Estado e Prefeitura de Salvador propusessem algo novo,  revolucionando uma modalidade engessada, cansativa e enfadonha de fazer o ansiado maior carnaval de rua do planeta.

Entretanto, essa é uma fala também repetida há décadas e décadas e como se diz parece que virou clichê!

Trambolhos de aço e madeira, chamados de camarotes, muitos  deles parecidos com os camarotes do coliseu romano, ocupando as vias públicas são há décadas continuamente concedidos à iniciativa privada. Uma ocupação dos espaços com o patrocinio de cervejarias bilionárias, dos mesmos empresários fraudadores das Lojas Americanas e os “cambau “! Espaços que já foram de há muito tempo delimitados como pertencentes à elite branca, tal como se fez notar no passado quando o ex-prefeito, ACM “negão”, modificou as linhas de ônibus urbanos que passavam pela Barra e Ondina, oriundas dos bairros populares. Estava posta desde àquela época, aqui pra mero exemplo, uma clara segregação do povo pobre da cidade do Salvador que se viu na prática impedida de frequentar locais turísticos posto que sua presença só “enegrecia” o espaço e amedrontava os frequentadores das praias do Porto da Barra e Ondina. Precisa falar de racismo?

No atual circuito momesco o que se viu em meio aos desfiles de trios elétricos do circuito branquelo, foram os mesmos blocos elitizados pra classe média que, portando seus abadás customizados por e com propagandas, mortalhas do pós moderno carnaval neoliberal parceladas no cartão de crédito, viu passar velhacos e velhotes de bandana na cabeça, a repetir suas músicas decadentes, recheadas de encontros vocálicos paupérrimos. Muita vogal pra quase nada! Viu também outras senhoras brancas, chamadas de divas do axé music, cantarem o que há de pior em letras e músicas, porém, engordando suas contas bancárias e definhando mais e mais em qualidade o carnaval raiz de Dodô, Osmar e Moraes Moreira.

Sobrou pornofonias e pornografias pra todo lado, sem qualquer qualidade musical, pontuadas por balanços de quadris, como sobrou também a imbecilidade de uma platéia de gosto duvidoso, de tremenda pobreza cultural, que ao se deixar embalar pelo baticum dos negros tambores, aceitava tacitamente os impropérios nocivos a todos os tipos de ouvidos, mesmo para os brancos, que automatizados sacolejavam as bundas pra lá e pra cá.

Ao mesmo tempo, contudo, noutro lugar , a população majoritária da cidade foi ao carnaval para, como sempre, servir à classe média e aos pouco mais de 180 mil turistas branquelos que passaram pelo  Aeroporto 2 de julho de Salvador. Sentiu?

Foram cordeiros, ambulantes e toda a sorte de gente em busca de uma graninha em duros tempos de bolsa família. Em alguns dos seus bairros, distantes ou nem tanto, palcos e artistas sem qualquer patrocínio, muitos deles verdadeiros representantes da raça e música negras, sobrando de fato no descaso da prefeitura. Isso sem falar de artistas com longas e consagradas carreiras que sequer foram convidadas pelos poderes públicos, que privatizam os espaços e portanto privatizam a cultura e a alegria popular. A prova do descaso chega a tal ponto como o absurdo que ocorreu na Boca do Rio onde até energia elétrica faltou, destruindo o comércio de comidas e bebidas de quem tinha inclusive autorização da prefeitura pra ali comercializar.

Repete-se ano após ano o mesmo cenário; músicas de qualidade ruim, ocupação do espaço público pela iniciativa privada e um modelo excludente de carnaval. Mais de um século após o surgimento do Entrudo, o carnaval português, hoje é a elite branca que “pede passagem na avenida” para o que já foi uma festa popular.

Moraes Moreira, balance o chão da praça !

Wagner Bomfim 

23/02/2023

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Marirone
Marirone
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  1. Neci Soarea em Análise
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