Meu Senhor, livrai-me do ciúme! É um monstro de olhos verdes que escarnece do próprio pasto que o alimenta. Felizardo é o enganado que, cônscio, não ama a sua infiel! Mas que torturas infernais padece o homem que, amando, duvida, e, suspeitando, adora.
Willian Shakespeare

Um dos sentimentos mais e melhor explorados na literatura e em suas variantes mais representativas, como a música e o teatro, tem sido o ciúme, em todas as suas esferas, níveis ou classificações psicanalíticas.
Esse sentimento, que pode variar desde um simples zelo e cuidado com algo, objeto, até mesmo a uma necessidade de controle da pessoa a quem muitas vezes dedicamos amor.
Costumo dizer que o amor é um sentimento narcisístico. Quem ama alguém implicitamente também deseja sentir-se amado. O problema começa exatamente aí. Qual é a medida do sentir? Qual a percepção do zelo a que estamos satisfeitos? Ter aquele objeto ou pessoa sob nossos olhos? E o que o outro faz, pensa, são do ponto de vista psico afetivo possessivamente aceitos?
O ciúme possessivo, obsessivo, reflexo de insegurança, da baixa autoestima é de longe o mais dramático e nocivo. Razão de crimes, tragédias, amparado em hábitos e costumes da coisificação dos corpos(nos últimos milênios muito mais divulgado sobre o corpo da mulher).
William Shakespeare, escritor e dramaturgo inglês, ao escrever o drama Otelo estabeleceu com maestria todo o inconsciente e zelo do amante, que a tudo e em tudo desconfia de sua amada, no caso, Desdêmona. Otelo construiu um rival em seu íntimo para ocupar exatamente esse locus de insegurança, mesmo que razões não tivesse para expressar um zelo desmedido, uma necessidade de controle sobre as ações da sua amada.
“O ciúme lançou sua flecha preta
E se viu ferido justo na garganta”
Os versos acima de Caetano Veloso demonstra de forma subliminar como esse sentimento é tão cruel e ambivalente, posto que o ciúme ao lançar a sua flecha (a flecha de Cupido, o Deus do Amor) em direção ao objeto amado, da pessoa narcisisticamente desejada, acaba sufocando-o em seu próprio fel, poética e filosoficamente falando.
Nos meandros do inconsciente as mais variadas formas de ciúme transitam e revisitam em formas de comportamentos variados. Desde uma simples competição por cargos ou funções em uma empresa, oportunidade em que se faz de tudo para destruir o outro que ama, adora também o mesmo objeto, passando por uma exposição multicolorida e multifacetada de comportamentos extravagantes, como os pavões em sua dança de acasalamento, perante o outro sexo e gênero a quem desejamos amar, reproduzir.
“Nosso êxtase – dizemos – nos dá nexo
E nos mostra do amor o objetivo,
Vemos agora que não foi o sexo
Vemos que não soubemos o motivo “
Jonh Dorne
A nossa incerteza, enquanto humanos, diante dos mistérios da vida nos faz agarrar-se a todo e qualquer sentimento de preservação e de superação e supressão da dor.
Fiquemos por enquanto e por fim com um soneto dominical em estilo “Petrarquiano”.
O ciúme
Que peçonha que tu me destes
Quantos corações tu palpitas
Falta-me ar em pestes
E ázigo em mim suscitas
Tão bela és em verdes vestes
O leito que ora dormitas
Lânguidos olhares me destes
E peitos arfantes aflitas
Outro incauto se anuvia
Ante esse monstro tão sagaz
Teu mortífero e doce olhar
Monstro verde belo e voraz
Consumindo-me noite e dia
Sem sonhos, sem vida, só pesar.
Wagner Bomfim
12/03/2023
💘
thank you !
Muito bem retratado o “ciúme”, tão humano, perverso e destrutivo, uma vítima em si mesmo.
Parabéns Wagner, querido Poeta!!
Bjs querida