A solução é o Au-H (hidrogênio de ouro)

A mídia profissional (impressa/digital) e seus seguidores precisam ser mais razoáveis sobre o que produzem, postam, compartilham e comentam.
Estamos na febre do gás do sertão semiárido brasileiro, semelhante à euforia da produção de etanol. O resultado tem sido tão nocivo quanto os combustíveis fósseis (considerando escalas relativas), já que vários problemas se seguiram no campo. A produção de H₂V em larga escala, além de ineficiente, seria um desastre para as já esgotadas reservas minerais dos solos, como é o agronegócio atualmente, já que se assemelha mais a uma indústria extrativa.

No sertão, já estressado pela água, esse modelo de produção gera ainda mais problemas. A solução é o hidrogênio de ouro, já que o valor do óleo residual em reservatórios de petróleo improdutivos é zero, a menos que o hidrogênio seja extraído.

Os hidrocarbonetos representam uma das mais elevadas fontes de hidrogênio disponível no planeta e os reservatórios esgotados e improdutivos abrigam uma rica microbiota hidrogeno gênica. A extração de hidrogênio pode ocorrer sem os impactos ambientais da produção de biocombustíveis. Dessa forma, a rota mais natural para a produção de hidrogênio é a própria indústria do petróleo, que se tornaria uma indústria limpa e sustentável, cujo insumo de matéria-prima teria custo zero, uma vez que utilizaria reservatórios improdutivos, por meio de processos biológicos. A indústria petrolífera também tem a vantagem de já dispor de toda a infraestrutura, bem como a escala necessária para atingir uma produção significativa, de modo que, a muito curto prazo, a produção possa representar uma parte substancial da procura global de hidrogênio limpo.

A ideia é usar microrganismos em processos biológicos dentro dos próprios reservatórios, para transformar parte dos hidrocarbonetos remanescentes em hidrogênio, e os mesmos reservatórios funcionariam como uma refinaria biológica de petróleo, onde componentes orgânicos seriam produzidos para gerar compostos essenciais que ainda não podem ser produzidos por outra fonte que não o petróleo. O CO₂ e outros compostos gerados nesses processos poderiam ser capturados e incorporados numa planta de microalgas em aerobiose. Como as indústrias química e petroquímica são as principais consumidoras de hidrogênio para a produção de compostos como amônia, metanol, resinas, polímeros, aminas, peróxido de hidrogênio, entre outros, isso representaria uma reciclagem completa de hidrocarbonetos em compostos úteis no mesmo reservatório e sustentáveis para a sociedade.

Mais de 95% do hidrogênio global utilizado pelo setor industrial é fornecido por métodos convencionais utilizando combustíveis fósseis. Para reduzir a pegada ambiental da produção de energia limpa e renovável, o ideal é deixar a agricultura produzir alimentos, o que já sabe muito bem.

Basta regular o agronegócio, de modo a promover o uso racional e reduzido de agrotóxicos, minimizando o impacto nos ecossistemas.

O objetivo do agronegócio deve ser melhorar sua produtividade e permitir extrair fibras, medicamentos, alimentos, pré-bióticos e outros bens das culturas agrícolas, remunerando adequadamente o agricultor.

Paulo Fernando de Almeida

Prof Titular de Microbiologia da UFBA.