O Retorno de Oxóssi
Hoje completados 09 meses da depredação da escultura feita pelo artista plástico Tati Moreno para homenagear o Orixá Oxóssi, junto a representação da Ialorixá Mãe Stela, localizada no sopé de uma duna que dá acesso à Avenida Mãe Stella de Oxóssi a referida escultura volta ao seu lugar completamente restaurada para a alegria do povo baiano.
A Bahia de São Salvador, seu multiculturalismo e suas múltiplas influências religiosas, berço da civilização brasileira, convive com todas as mazelas do preconceito racial e religioso há séculos.
Os milhões de escravos oriundos da África nos navios negreiros que aportavam na Baía de Todos os Santos traziam mão de obra para exploração nos canaviais ,aqui na Bahia e nas minas e cafezais no sudeste do Brasil, mas, também costumes milenares, suas línguas e religiões, que aqui, durante séculos, foram e tem sido oprimidas pelo cristianismo católico que imperava e oprimia suas mais singelas manifestações. Recentemente essas expressões passaram a ser combatidas de forma violentas pelo que se tem identificado até então, pelo fundamentalismo neopentecostal em sua sanha de crescimento e ocupação de todos os espaços sociais nos últimos 30 anos.
A violência sobre as religiões de matriz africana tem sido expressa há décadas sobretudo na cidade de Salvador, assim como Brasil afora, se acentuando nos dois últimos governos municipais, sendo um deles “terrivelmente evangélico” e que assistiu a inúmeras violações de Terreiros de Candomblé, bem como violação de áreas sagradas do Parque de São Bartolomeu, só para exemplificar.
Onde está a resposta ao que alguns chamariam de vandalismo? Prefiro chamar de violência dos fundamentalistas com seu extremo preconceito religioso e de raça. Até o presente momento não se tem notícia sequer de uma investigação policial para essa violação ao monumento artístico, um bem público custeado pelos impostos da população.Parece não ter havido o interesse ou competência das autoridades baianas em, usando de seus recursos de inteligência, frear a permanente expressão de intolerância a multiplicidade cultural e religiosa do baiano.
Mas será que esse é um evento isolado? Justamente ali nas dunas de Stela Maris, próximo às dunas da Lagoa de Itapuã, local sagrado para os filhos de santo das religiões de matriz africana, que está sofrendo com mais uma violação, tanto do ponto de vista religioso quanto sob o aspecto ambiental, pela intervenção que faz a prefeitura de Salvador. Fica a pergunta!
As dunas de Stella Maris, por exemplo, objeto da cobiça do setor imobiliário, hoje são invadidas por condomínios de classe média, fugitivos da violência urbana, condição cada dia mais agravada pela inoperância dos governos.
Oxóssi, orixá guerreiro, guardião popular, desponta seu arco e flecha para o horizonte sinalizando exatamente para os invasores que assomam à entrada da avenida que homenageou Mãe Stella representante da religião de matriz africana que aquele é um local sagrado. Oxóssi, ligado a natureza e as artes, reassume seu lugar com o selo e o respeito que a família Tati Moreno propiciou na restauração do monumento àquele orixá e sua ialorixá mais antiga e famosa do Brasil.
Esperamos que mais axé, oriundo de suas forças seculares, cheguem para proteger toda a reserva ambiental ali existente e que sua escultura ali representada não seja vítima mais uma vez da intolerância e da ganância que permeia a Baía de Todos os Santos.
Okê Arô!
Wagner Bomfim
11/08/2023
Bemmmm complicado…
Temo que, assim como está acontecendo em outras nações que receberam escravos africanos, o combate físico aos racistas será inevitável por aqui. Haverá um ponto de ruptura. Cartas de repúdio na forma de cadeiradas na cabeça dos fascistas. Enfim, um remédio tão radical quanto a doença.