O Açoite aos Quilombos
Ao longo dos últimos meses temos levantado aqui a discussão sobre temas sensíveis às populações ditas minoritárias, negra, LGBTQUIA + e sobre as religiões de todos os matizes mas, sobretudo o debate sobre práticas e estratégias nocivas à sobrevivência dessas comunidades.
O Censo Demográfico 2022 do IBGE revelou que 2,8% da população brasileira é quilombola, remanescente de escravos, estando a sua maioria concentrada nos estados da Bahia e do Maranhão apesar de existirem centenas de outras comunidades quilombolas espalhadas Brasil afora.
Determinados Quilombos na Bahia tem experimentado a violência perpetrada tanto pelo Estado Brasileiro quanto por empreendimentos imobiliários privados, geradores de sofrimento a essas populações com a ocorrência volta e meia de assassinatos. Esses crimes acabam a princípio noticiados, quando o são, como atos isolados de violência. descontextualizados dos profundos interesses da ocupação de terras de grande valor econômico e potencial turístico, por esses mesmos agentes públicos e privados.
Três comunidades quilombolas da região metropolitana de Salvador e do litoral turístico da Bahia tem sofrido violências dos poderes público e privados, tal como o bicentenário Quilombo Rio dos Macacos, localizado na Baía de Todos os Santos -Aratu, que foi invadida pela Marinha do Brasil.Essa comunidade antecedeu à ocupação da União , que a vitimiza há décadas, colocando-a como indesejada e impedindo até o seu acesso a própria terra e ao sustento, criando muros de contenção e com ameaça diuturna de violência física, sem que a justiça federal lhes possibilite o real controle daquele espaço que lhes é de direito.
Na ilha de Boipeba, reserva ecológica pertencente ao município de Cairú e esteio pesqueiro para uma comunidade quilombola, vem ocorrendo ameaças de morte a lideranças contrárias à entrega desse patrimônio a três milionários, Roberto Marinho, Arminio Fraga e Marcelo Stalone, proprietários da empresa Mangaba Cultivo de Coco que ainda assim, mesmo sabendo da existência da APA -área de proteção ambiental- obteve licenciamento ambiental do Governo da Bahia e omissão da Justiça Federal quanto aos direitos sobre a terra pela comunidade Cova da Onça localizada no Ponta dos Castelhanos.
O governo baiano e seus representantes políticos assistem omissos a essa ciranda de violência apostando apenas na falácia de geração de empregos, escravizados, nesses resort de luxo.
Mais próximo mas não menos importante é o Quilombo Palmares localizado no município de Simões Filho onde empresas privadas sufocam, literalmente, a comunidade com os gases oriundos do polo petroquímicos de Camaçari, invadindo suas terras com gasodutos e com a violência física. Essa semana a violência chegou ao clímax com o assassinato da líder comunitária e Babalorixá Mãe Bernadete após exatamente seis anos do assassinato do seu filho, também vitimado pela mesmas razões, a defesa inconteste do seu território e de suas crenças religiosas, o candomblé.
Essas incursões, interesses econômicos sobre terras já delimitadas pela Fundação Palmares como pertencentes aos descendentes de escravos e portugueses fugidos das batalhas pela independência refletem mais uma face perversa do modelo econômico excludente imposto pelo capital e seu “modus operandi” subjugando valores, costumes e cultura mesmo que a custa de perdas de vidas e vidas.
A União, a Justiça Federal e o Estado da Bahia com todas as suas representações são coniventes com esses crimes, sem elucidação até o momento e, esporadicamente sob pressão popular retardam apenas o extermínio desses povos e suas tradições.
O escravismo persiste por essas bandas e da forma mais perversa, ceifando vidas!
Wagner Bomfim
20/08/2023
Belo resumo dessa tragédia anos a fio anunciada e perpetrada pelos órgãos públicos coniventes