A religião, a cultura e a fecundidade

O censo demográfico 2023 do IBGE, divulgado após dois anos de atraso pelo Governo Bolsonaro, revelou dados importantes sobre diversos aspectos da população brasileira. Dentre os dados evidenciou-se a redução da fertilidade dos casais.

Analises demográficas da população mundial evidenciam estarmos no período de modificações das taxas de nascimento e taxas de mortalidade, evento esse nominado como transição demográfica.

Esse período se caracteriza pela mudança gradativa do perfil populacional onde se dá a redução da fertilidade dos casais, o progressivo envelhecimento das populações, fatores esses que ocasionam inúmeros impactos na economia, nos costumes e na cultura.

No Brasil, o cenário demográfico não é diferente. Se na década de 60 do século passado o Brasil era um país essencialmente rural, com predominância da religião católica, um contingente significativo da população era analfabeta e extremamente conservadora nos costumes.

Naquela época as mulheres expressavam taxas de fecundidade de 6,3 filhos, na atualidade se verifica uma queda conforme os dados de 2022 e 2023. Os dados mostram taxas de fecundidade distribuídas com níveis mais elevados no norte do país com 2,51, enquanto o sudeste e sul oscilam entre 1,75 a 1,92. O nordeste e centro oeste ostentam taxas de 2,04 e 1,93, respectivamente.

Hoje o cenário demográfico é diferente em alguns aspectos, onde pelo menos 80% da população vive nas grandes e médias cidades, mantendo contudo o seu perfil conservador, embora com importantes mudanças em suas referências religiosas e culturais.

Dados do IBGE apontam para um significativa transformação no quesito opção religiosa dos brasileiros nas últimas décadas. Isso se deve ao crescimento dos adeptos do pentecostalismo e neopentecostais e à queda paulatina de cristãos católicos, (1- gráfico), mantendo-se praticamente inalterados os declarados espíritas e adeptos das religiões de matriz africana.

Diversos fatores contribuem para tentar explicar esse fenômeno cultural, mas, nos deteremos apenas nas consequências do crescimento desse contingente de adeptos a essa corrente religiosa, o impacto gerado no meio social e as implicações no modo de vida e costumes do brasileiro.

Esses dados podem servir de embasamento aos gestores para definição de políticas públicas, mas, independente de preferências por esse ou aquele credo, não se vislumbra uma análise apurada das tendências e os impactos socioculturais.

Hoje somos um país com predominância feminina e pobre. As mulheres, em 51% das vezes, sustentam sozinhas a própria família. Essa condição de gênero e de condição dentro do quesito família, tem sido um elemento de adesão cada vez maior das classes baixas das periferias para aderir ao neopentecostalismo. Elementos que podemos correlacionar com os apelos dessas religiões pautadas no que eu chamaria de coparticipação.

Há pelo menos três décadas o representante da IURD, Edir Macedo, em entrevista para as páginas amarelas da revista Veja, já expunham uma estratégia de tomada do poder através da ocupação das instituições sociais e do estado brasileiro. A estratégia seria a eleição de políticos compromissados em defender as pautas conservadoras da sua igreja, tipo condenação ao aborto, criminalização da umbanda, candomblé, além de outras pautas ligadas aos interesses econômicos onde se inserem a isenção de tributos para as igrejas e seus titulares, dentre outras questões.

Passados esse período verifica-se não somente um aumento de fiéis, bem como a ocupação de cargos nos Conselhos Tutelares, políticos no legislativo de todos os naipes, até a presença de Ministros “terrivelmente evangélicos” nos tribunais superiores, impondo uma narrativa extremamente conservadora, anti científica, com franco viés nazifascista e firmemente imbuídos de formar um estado fundamentalista cristão.

Com a redução da fertilidade em todas as camadas sociais, a ausência de um Estado forte(saúde, educação, segurança e emprego) e laico, porquanto redutor das desigualdades sociais e educacionais, o que se verifica é o crescimento do narco fundamentalismo neopentecostal, aliciadores de uma juventude sem esperanças, sem futuro. As taxas de fecundidade brasileiras, mesmo que viessem a crescer, na contramão dos dados mundiais, não teriam o condão de modificar nas duas décadas próximas a distopia que tem sido a  praxi do neopentecostalismo tupiniquim, que em nome de um novo messias constroem uma cultura pautada na idade das trevas.
Está repreendido! 😁

Wagner Bomfim
10/12/2023

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Marirone
Marirone
1 ano atrás

Amigo, é muito triste! E contra esse fanatismo fica difícil lutar da forma que estamos vendo… Não sei, mas temo pelo porvir…

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Comentários

  1. Franklin Passos em Análise
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