A alegria do povo
Quando se fala sobre jogadores de futebol o apaixonado brasileiro costuma citar alguém do seu time preferido ou um midiático da atualidade. Poderia citar vários, que embalaram as tardes de domingo nos campos de futebol Brasil afora, mas um é impossível não falar. Trata-se de Garrincha. Gostava de Garrincha, daquele baixinho feio que fazia todo o meu time (Flamengo) dançar, e ninguém, nem mesmo os russos, desesperados, conseguiam lhe marcar, era impossível pará-lo, tomar-lhe a bola.
Tivessem dez campos ali dentro do estádio Maracanã ele passearia incólume, sem perder a bola dos pés.Com uma perna torta, que aos inúmeros olhares que lhe assistiam causavam torcicolos nos milhares de torcedores e de seus adversários, loucos para que o jogo acabasse, loucos para que a partida fosse suspensa por uma tempestade enviada por um deus qualquer do Olimpo, um deus maior que seus dribles e dos ohs! da arquibancada geral.
Quando cansava da mesma brincadeira, sim, pois tudo era uma brincadeira para o anjo de pernas tortas, ele atravessava o campo e entregava a bola para algum companheiro. Com isso, chegava a causar profunda tristeza na torcida, pois, Garrincha, sem a bola junto aos pés era como uma sombra pairando, contida sobre o campo. Cada drible ensaiado e inúmeras vezes repetido, soava como o desabafo de um povo alegre sofrido, desdentado.
Para uns, aquilo à frente era uma encarnação demoníaca que os fariam sofrer por intermináveis noventa minutos, até que o trilar do apito final, como num apocalipse, decretasse o fim do inferno. Para outros, inclusive para a torcida adversária, seus dribles eram um enlevo, qual um passeio de anjos e querubins num jardim celestial sob uma sinfonia de ahs! e ohs! em uníssono.
Assim era Garrincha, inigualável, entre tantos desiguais. Pouco importava a camisa que usasse, pouco importava o dia e hora do espetáculo, quem seria o seu suposto adversário, só importava a alegria de vê-lo jogar.
O leitor atual por certo nem imagina o que foi Garrincha, além de algumas citações cada vez mais escassas no rádio e televisão, além de algumas imagens desbotadas pelo tempo, quase monocromáticas, como os jogos televisionados de agora.
A história do futebol mundial não existiria sem ele, o Anjo das pernas tortas.
Esse era Garrincha, a alegria do povo!
Wagner Bomfim
07/01/2024
Verdadeiro deleite sobre Garrincha…um abraço.