Há 11 anos realiza-se em Dubai o Word Goverment Summit, encontro anual com finalidade de discutir inovações tecnológicas e suas perspectivas governamentais no mundo.
Pesquisando na web acompanhei algumas palestras, mas uma entrevista chamou-me a atenção, dado a relevância atual do tema informação no estágio do capitalismo, seu valor e capacidade de controle de sociedades inteiras.
Frente a uma plateia dominada por produtores de petróleo e suas absurdas ostentações, lá estava o proprietário da Tesla e do X, antigo Twitter, Elon Musk, aquele mesmo que disse que promoveria, sim, golpes de estado onde houvesse matéria-prima para seus negócios. Suas incursões beneficiando-se do lítio boliviano destinadas às baterias dos seus carros elétricos e recentemente seu nebuloso avanço no controle da água naquele país são provas disso.
Discorria sobre a Inteligência Artificial e o desenvolvimento de robôs nos próximos anos, ampliando a produção e oferta de bens matérias para consumo humano.
Diante do questionamento do entrevistador sobre o desemprego, voltou-se para a plateia com um discreto e cínico sorriso, propôs uma Renda Universal que possa albergar um grande exército de humanos destituídos do seu trabalho consequência da atuação absoluta de robôs com inteligência artificial no dia a dia que irão produzir mais e melhor e sobretudo com menores custos.
Ele, um representante do capital financeiro, industrial e da informação, conduz o ouvinte à impressão de um mundo sem contradição, descompromissado com o homem.
A dicotomia entre a vida e a morte ou entre o trabalho e a submissão enquanto escravo se aplica, expõe os atos extremos entre sobreviver com o trabalho ou uma vida heroica, embora morto assim a filosofia hegeliana pontua(1).
Ao longo da civilização o trabalho sempre foi a força motriz da existência humana, sempre foi e é o elemento determinante de suas relações com o modo de produção social e sua dialética.(2).
Se o berço da civilização grega, através de seus filósofos, detestavam o trabalho, tornando-se livres para atividades que cultuassem o corpo e elevassem o espírito, por outro lado, esses mesmos tinham… escravos!
Filósofos modernos como Paul Lafargue, Domenico di Masi, defendem, cada um a seu modo , a ampliação do tempo livre destinado ao ócio e possível desenvolvimento humano.
A estrutura do capitalismo, vê-se, está na otimização do processo produtivo de bens de toda sorte, gerando um excedente de mão de obra e no caso o magnata Elon Musk propugna uma renda universal “garantidora” da sobrevivência, a opção pela escravidão.
Os países pobres ou garantidores de bens não manufaturados, em primeira instância serão vitimados pelo massivo lockout humano laboral. Até quando?
Domesticamente, aqui no Brasil, o político Eduardo Suplicy (PT) vem lutando há décadas por uma renda mínima garantidora de sobrevivência para o grande exército industrial de reserva do capitalismo ainda assim com inúmeras resistências intrapartidarias.
Os donos do poder aguçam os sentidos para usar em seu favor o que a IA pode lhes garantir sem que a dialética marxista coloque o homem no centro das necessidades do mesmo possibilitando uma disrupção social.
Nenhuma renda universal, conseguirá suprir as necessidades existenciais, é verdade, contrapondo-se com o mito da morte ou da escravidão.
Não é sobre o futuro, é aqui e agora.
Wagner Bomfim.
Protótipo 3004WB da Engenharia Robótica.
1-Hegel.
2-Marx.