Um defunto na sala

 

Às vésperas de completar seis décadas do último golpe militar, tão comum nesse país, podemos afirmar que o  clima politico existente hoje é bem similar ao que o Brasil vivenciou as vésperas do Golpe de 1 de abril de 1964. Sem nenhum olhar pessimista, eu diria que o cenário é até pior, muito pior.

Naqueles dias em que o Governo Joao Goulart planejava implantar as reformas de base para alavancar o país,  as oligarquias não dispunham do apoio popular tal qual hoje verificamos. A classe média insuflada pelos seus preconceitos de classe, era a massa de manobra para fazer reverberar os interesses oligárquicos e pedir numa passeata da TFP uma intervenção militar. Hoje, um contingente expressivo da população, sem distinção de classe é bovinamente conduzida a seguir um regime teocrático fascista, fase acabada do capitalismo, com  as forças armadas à espreita,  para novo e repetido golpe a democracia.

Se em 64 Jango tencionava mexer nas relações sociais entre o campo e cidade, na educação, fazendo reformas tributárias e previdenciárias, além de promover outras reformas de base, verificamos que o governo atual sofre de uma inação política. Aliado a essa anemia congressual, não há por parte governamental uma comunicação ágil e moderna para se antepor aos novos cenários onde transitam as Bigtechs alinhadas a narrativas de extrema direita com suas redes sociais, que incendeiam as discussões burras e infestadas de ignorância e ódio pais afora. Essa lerdeza no enfrentamento político permite o avanço das forças reacionárias do neoliberalismo e sua financeirização da economia.
Os políticos, o sistema judiciário, setores religiosos e seus vínculos com as narco milicias, assim como as FFAA parasitárias da nação, elites do serviço público, beneficiam-se da corrupção existente dominada pelos rentistas e especuladores do orçamento público.

Se a eleição de um campo democrático freou o proto fascismo nos jardins das casas legislativas, o que vemos hoje são nuvens cinzentas a rodear as nossas cabeças tal qual ha 60 anos atrás. Junto a esses ventos assenhora-se a sombra das forças armadas, bafejando o odor podre de um defunto que precisa ser sepultado de uma vez por todas,  para o bem da frágil democracia.

É mais que urgente corrigir os rumos de um governo que apresenta uma política econômica e institucional cada vez mais neoliberal, uma democracia sem povo e a serviço das grandes elites, um modelo, para o bem desse povo, que precisa ser superado.

Não há razão para  coabitar com os eternos parasitas e suas comemorações de assassinatos e torturas e com seus golpes  contra o próprio povo. Estes defuntos, representantes da necropolitica, estão a espreita para invadir as nossas casas.

 

Wagner Bomfim

14/03/2024

 

 

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Adeítalo
Adeítalo
1 ano atrás

Gostei bastante. Não há dúvida para ninguém que a sociedade brasileira corre sério risco em nossos dias. É preciso acrescentar que o risco é mundial. Os Estados Unidos hoje flertam com o retorno de Trump, testando também o vigor da sua democracia. Recomendo dois autores lúcidos sobre o tema: Jessé Souza, A elite do atraso; e João Cesar de Castro Rocha, Guerra cultural e retórica do ódio; sobre as raízes das nossas elites, sempre parasitárias e conservadoras. Assim como a cultura fascista e extremista se aliou às elites econômicas. Recomendo também alguns textos de minha autoria sobre o tema.

Lorena
Lorena
1 ano atrás

Fascismo neopentec é o puro sumo do capitalismo brasileiro atual.

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Comentários

  1. Franklin Passos em Análise
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