A enchente política
É comum ouvirmos muitas vezes algumas pessoas citarem uma frase clichê de que “política, religião e futebol não se discute”. Entre o ignorante, sobretudo político, e a desfaçatez do reacionário, melhor torcer para o Ipiranga, pois a conduta mau caratista* acima de uns são a estratégia de sempre, de negar o tema e, portanto, ir à raiz dos problemas.
A enchente que assola o Rio Grande do Sul, com as chuvas e alagamentos sacrificando centenas de cidades e milhares de pessoas, é apenas uma tragédia entre tantas que por lá acontecerá, como de resto no país, e essa tragedia tem um nome.
Não falarei sobre o clima, isso é assunto para especialistas, mas sobre a agenda neoliberal nefasta que propicia destruição acelerada do meio ambiente.
Os estados do sul, sudeste, centro oeste e boa parte da Amazônia, são o substrato desse avanço predatório do agronegócio e sua subsequente alteração climática, razão efetiva das tragédias que se sucedem ano após ano em diversas cidades do país. Todas elas, sem exceção, não dispõem de um Código das Cidades para ocupação do solo, nem mecanismos de proteção às catástrofes como agora acontece no RS, bem como as futuras tragédias que, infelizmente, ocorrerá.
Os dados sobre os investimentos públicos em saneamento básico, oferta de água, reflorestamento e defesa civil estão aí à disposição de todos e revelam um cenário aterrorizante de desídia e improbidades, mas sobretudo de intencionalidade politico econômica.
As assembleias legislativas, a Bahia é um exemplo, e parte do Congresso Nacional trabalham com a lógica da privatização da água (ver Sabesp em São Paulo) e, portanto, aprovam um Marco do Saneamento que tornam o bem mais precioso da vida, água, como propriedade privada de acionistas e especuladores financeiros. Sem investimento em reflorestamento, em saneamento básico, preservação dos rios e controle da água, os órgãos nele envolvidos e as Defesas Civis são reféns dos interesses citados.
O desmatamento(a porteira está aberta) do RS, estado agrícola por natureza, reflete o modelo neoliberal de economia vigente e conta com seus “testas de ferro”, tais como os deputados e senadores *** que esta semana defenderam um projeto de lei ampliando o desmatamento e, portanto, anunciando novas tragédias.
Neste instante, o Governador limpinho do RS, digo Leite, ostenta seu novo modelito, um colete da Defesa Civil, de cor de abóbora pespontado com listas cinzas e um semblante de falso pesar, junto aos Cavaleiros do Apocalipse do Mal, os deputados e senadores *** para falarem a mesma língua, a da desfaçatez!
A mídia corporativa, sócia do agronegócio, e testa de ferro desses interesses, utiliza dos dez mandamentos do jornalismo para manipular a opinião pública, usando e abusando da distração, da ignorância, para sonegar as informações, suscitando o sentimento de auto culpabilidade nas pessoas. Abusa do emocional para assim isentar os verdadeiros responsáveis pela catástrofe há muito anunciada pelos climatologistas.
“Faça seu Pix! Seja um voluntário! O RS precisa da ajuda de todos os brasileiros” e outras frases de efeito é o mote decantado pela mídia durante 24 horas. O coração do nordestino chega a sangrar de tanta “culpa”!
Enquanto isso, o governo federal é instado a intervir na reconstrução de um estado já endividado há décadas, mas que avança numa sanha predatória. Serão destinados em torno de 50 bilhões de reais para reconstruir as áreas atingidas, recursos esses que basicamente financiam o SUS por todo um ano e que serão entregues exatamente para os causadores das mortes, da miséria e desolação.
É preciso discutir futebol, religião e política, estúpido!
Wagner Bomfim
10/05/2024
*Mau caratistas-Odorico Paraguassu(Dias Gomes)
*** Impublicável.
Perfeito, doc.
Uma verdadeira tragedia anunciada e na qual os gestores dos recursos serao justamente aqueles que direta ou indiretamente a causam.
São as tragédias planejadas pelo capital financeiro. Agora vem a privatização das praias, o bem mais precioso do povo.
Não se ver movimentação dos jovens estudantes e de nenhuma outra categoria. É o domínio total da pauta da extrema direita, para a destruição do bem comum.