Tenho defeito de nascença
Moléstia de nem se ver
Sou filho da bordadeira
Fugido sem eira e beira
Tecendo fios de benquerença
Em noites de bem querer.
Tenho defeito de nascença
Um olho aberto outro fechado
Para as intrigas assistir
E a alma atoa a carpir
Assistindo a maledicência
Com o coração machucado.
Tenho defeito de nascença
De amores e ombro irmão
Moléstia e desassossego
Fardo que enfim carrego
Na senda da indiferença
Nas hordas da solidão.
Tenho defeito de nascença
E se aprouver a mentira
Escore do peito um ardor
Antes prefiro o amor
Que consome as desavenças
Dissolvendo toda ira.
Tenho defeito de nascença
Duro na urdidura
Do sertão nunca apartado
Sou sertanejo invocado
Mas mole na sua querença
Doce que nem rapadura.
Tenho defeito de nascença
Dele urdido sempre me valho
Pra uns sou até solícito
Pra outros um tanto esquisito
Mas é imensa diferença
Nunca serei espantalho.
Tenho defeito de nascença
Anseio nobres manhãs
Passeio na inquietude
Dos sonhos da juventude
De amores e de querença
Voando a Aldebarã.
Tenho defeito de nascenca
Vou dizer enfim,no entanto
Sou passante nessa vida
Aprendiz desenxabida
Tenho defeito de nascença
De humanidade e encanto.
Tenho defeito de nascença
Assim “ dos lábios a vida corre “
Travoso no seu princípio
Verdadeiro qual particípio
Sou sim, sou não, sou pertença
“Como quem ri ou quem morre “.
Tonico di Meucci
26/05/2024