Cancelier e a greve.
Lembro-me que, após uma aula que proferi na Faculdade de Farmácia da UFBA, em outubro do ano de 2017 alertei sobre o avanço do fascismo, fase perversa do neoliberalismo, sobre as universidades. Elas, as universidades, sempre foram o espaço pensante e marcadamente influenciadora de várias políticas educacionais, econômicas e políticas, desde sua criação nos dois últimos séculos portanto deveria ser um polo de resistência ao fascismo.
Passados sete anos da morte do Dr. Carlos Cancelier, o CAU, ex-reitor da UFSC, a instituição universidade pela qual ele deu a vida vivencia tempos de profundo pesar. Sua vida, encerrada com o impedimento de frequentá-la pela ação deletéria de agentes do fascismo, culminou com seu suicídio. Hoje, as universidades caminham céleres para uma morte anunciada, situação de insolvência enquanto produtora de ciência, de tecnologias e como fonte educadora.
As Universidades e Institutos Federais completam o segundo mês de greve, em razão da precariedade de suas estruturas físicas sucateadas, da necessidade de recomposição de seus quadros docentes bem como necessidade de atualização de um plano de carreira equânime com seu corpo docente e de funcionários administrativos devidamente valorizados.
Uma das propostas da campanha eleitoral do atual governo foi exatamente priorizar a ciência e a educação, condição que fora negada pelo antecessor, onde sequer sentar à mesa de negociação acontecia. O objetivo era o estado mínimo, onde a ciência e a educação pública de qualidade não faziam parte.
O Ministério da Educação e o Ministério da Gestão e Inovação, que tem sido provocados a dialogar com as entidades sindicais representativas das universidades, parece ir na contramão da maior virtude do seu governante, Lula, que sempre foi um hábil negociador. De forma autoritária esses ministérios determinaram o fim das negociações no dia 27/05, alinhando-se exatamente com a prática nefasta dos antigos gestores e todo o seu séquito fascista.
A título de satisfazer aos interesses do rentismo e de seu arcabouço fiscal, eufemismo usado para o assalto ao orçamento público, do qual a educação faz parte, determina unilateralmente o fim do diálogo com a progressiva morte por inação dos recursos, tanto material quanto humanos, das universidades públicas. Além disso, justifica acertos com sindicatos paralelos, que não tem legalmente representatividade, fragmentando a luta sindical por dentro, em disputas que ocorriam no melhor estilo “pelego” da época do Estado Novo de Getúlio Vargas.
Os valores de recomposição salarial, plano de carreira e os recursos no orçamento para custeio, tranquilamente podem e devem ser objeto de negociação. A sua negativa, negociação factível, não apenas sentencia as universidades a uma morte lenta e gradual, mas também sela o fim de um discurso de um governo que sequer chegou a metade de sua gestão.
Corroído por dentro, tem em seu quadro executivo grandes aliados e alinhados aos interesses da elite financeira nacional. Esses, adesistas ao financial capitalism não encaram a ciência, a tecnologia e a educação pública de qualidade como prioridade para desenvolvimento do país. Desta forma, o país é impedido de se tornar uma nação num mundo onde informação e conhecimento são o caminho para a soberania.
O governo de inspiração de centro-esquerda pode estar com seus dias contados à espera de um novo golpe ao ceder inconteste aos interesses dos financistas, desprezando setores sociais formadores de opinião e que historicamente tem lhes proporcionado sustentação política.
É preciso que o mesmo reavalie suas práticas e pavimente melhor os seus caminhos.
Professor Cancelier, presente!
Wagner Bomfim
27/05/2024.
A mais pura realidade. Para os milicos, 27%, para os docentes, 0. Difícil acreditar que estaríamos nessa enrascada. Bastava aventar um mínimo de interesse para a recomposição do valor do custeio das IES e para os salários, digamos a inflação, para esse ano, com manutenção de negociação ao longo do ano. Com ctza os professores tinham ao menos garantias de que esse governo era o mesmo que ajudara a eleger.
Aqui, não arredo o pé em defesa de uma universidade pública, gratuita e forte!
O mínimo que podemos fazer é defendê-la !
Viva o ensino público.