I
Vou lhes contar uma história
Pra todos se alembrar
Que um emissário do mal
Deixou gravado em memória
Que disse que o gado iria
Pela porteira passar.
II
O matuto assim pensou
Que peixe nadava no mar
Que gado andava no chão
Mas parece tudo mudou
Abriram a porteira então
Pra o gado aprender a nadar.
III
A expressão de um infeliz
E filho da égua maldito
Disse a nação agônica
Que o filho da meretriz
Fez-se na flora amazônica
Devastador do infinito.
IV
Assim cunhou a expressão
Agora pra outros destinos
Do nosso azul verde mar
Abrindo pra concessão
Pra burguesia explorar
Loteando mezaninos.
V
A tal da porteira aberta
Chamada de PEC da praia
Privatiza rios e mares
Impedindo que a lua esperta
Acenda amores aos pares
Desnude corpos que ensaia.
VI
A sombra pode ocultar
O sol, o barco e a lua
E uma paixão navegante
Não tendo onde aportar
Com a lágrima constante
À solidão se insinua.
VII
Muros de ferro e concreto
Todas as praias terão
Cegando a beleza anil
Nesse insano projeto
Desse vendido Brasil
Onde boiadas passarão.
VIII
O gado já esta na estrada
Andando afoito por terra
Calcinada qual fogueira
Nadando até de braçada
Imerso em imensa sujeira
Do mar em grito de guerra.
IX
A ganância desmedida
Do agro e do capital
Adoece a providência
E a mãe terra ofendida
Dará retorno à indecência
Com o dia do juízo final.
X
Abriram a porteira do inferno
Não pensam em filhos e netos
Só cheiro do vil metal
E o solstício do inverno
Cobrará um preço mortal
Pela ação dos abjetos.
XI
Construir junto à Iansã
É sinal da estupidez
E da ganância desmedida
De certa elite malsã
Contra a terra ofendida
Viverá toda a escassez.
XII
Praias cheias de concreto
Que ofende a mãe natureza
Com prédios e paliteiros
Desse infeliz projeto
Gestado por bandoleiros
Mal agouro, exemplos de tibieza.
XIII
Os novos ricos eriçados
Em destruir a terra e o mar
Por conta de usura e ardor
Tem danos prenunciados
Com secas, tormentas, furor
Ao meio ambiente causar.
XIV
A brisa, o vento e o sal
Impedidos de circular
Aquecendo a fauna e flora
Em desequilíbrio abissal
Com força devastadora
Desastres em terra e em mar.
XV
Deixando de enrolação
Já sabeis desse ingrato
Cornudo da imundiça
Que viver aqui, merece não
Vai se acertar com a justiça
Dele o povo fará um distrato.
XVI
Se as terras são da marinha
O povo é concessionário
E são dele as competências
Da água sã ribeirinha
E de outras adjacências
Esse é o real cenário.
XVII
O matuto não desiste
E alerta pra esse senão
Sabendo que o inimigo é forte
Mas luta, combate, resiste
Não espera a própria sorte
Tem fuzil, foice e facão.
XVIII
Zé Matuto vai capar
Se aparecer um bandido
Nas bandas desse sertão
Revelando o interessar
Do emissário do cão
Nesse acordo já urdido.
XIX
Mas ninguém pode brincar
Com as forças que o mal intenta
É preciso muita gana
É necessário alembrar
Que o cão tem é muita grana
E de Deus zomba e ostenta.
XX
O tempo de aviso já era
É hora de enfrentamento
Não basta dizer I’m alone
Pra enfrentar a besta fera
Mesmo sendo Brancaleone
Cobre enfim do seu parlamento.
XXI
Lutar o poeta já me disse
Que essa é uma luta vã
Mas lute por toda a vida
Deixando de lado a tolice
“Estou tão desenxabida”
“Sou apenas uma cidadã”.
XXII
O preço dessa omissão
São vidas, histórias perdidas
No vendaval e tormentas
Do bafo quente do cão
Que do mal se alimenta
Das tristezas ressentidas.
XXIII
Encerro assim a peleja
Sofrendo nessa urdidura
Com verso torto ao redor
Que singelas palavras enseja
Na luta contra o mal o pior
Em prol de um bem maior
Lavrado na Santa escritura.
Wagner Bomfim
01/06/2024
Maravilha
Belissima denúncia em poesia.
Não à PEC das praias.