A metade mulher

Assistimos ao homem apropriar-se na atualidade de toda tecnologia desenvolvida nesses dois últimos séculos, tecnologia que deveria estar à disposição de toda a raça humana.Porém, caminhamos céleres num retrocesso civilizacional, chegando, conforme assistimos, a fases anteriores a idade média, a idade das trevas.

Nos tempos idos, onde a mulher era uma mera reprodutora, parideira  de filhos,  para que esses desempenhassem trabalhos braçais na agricultura, na caça e pesca, seus corpos e almas sofriam as dores impostas pelas religiões e pelos estados, cúmplices das teocracias.

Nossos corpos doíam, morriam em crucificações, em fogueiras, em todas as formas de torturas, desde as geradas pelo pai e familiares que as abusavam, depois pelos maridos e donos, bem como pelas igrejas e templos e pelo estado que controlava seus corpos.

De nada vale tanta tecnologia, saber, se não compartilhado para diversas culturas, gêneros, humanidade. De nada vale a parafernália do consumo que nos expõe nas vitrines desse mesmo consumo prostituido.

Nossos corpos doem. Sob o assédio e estupros causados pelos mesmos criminosos de outras eras continuam a nos bulinar, a violentar nossas genitálias, nossas carnes, e o que é pior, as nossas almas, marcadas com o ferro quente de seus baixos instintos.

O estado brasileiro, “dos traficantes do medo*, nos impinge uma laceração a cada oito minutos, intervalo em que uma mulher é violentada de todas as formas.

Adentram com seus semens pútridos em nossos corpos e querem o fruto desses infanticídios e feminicídios, pois nos matam antes que sequer  morramos fisicamente. Antes, querem novos estupradores a perpetuar a barbarie.

Nossos corpos doem sob o olhar condescendente dos machos encastelados nos tribunais e nas câmaras de torturas e de suas doentias fêmeas degeneradas. Veem leis por eles criadas para perpetuação do poder e da violência sobre nossos corpos, que doem, doem, doem!

A metade mulher tem compaixão, chora, como tantas nesse instante!

Wagner Bomfim

22/06/2024

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Cacilda
Cacilda
11 meses atrás

Obrigada meu querido amigo por este conteúdo .

Neci
Neci
11 meses atrás

Realidade triste ……o Fim do poço não tem lastro…….a descida é infinita.

Lorena
Lorena
11 meses atrás

Tema pesado, mas necessário, só vc pra realozar tamanha beleza de denúncia em prosa

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Comentários

  1. Franklin Passos em Análise
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