Maconha à La Carte.

Um casal elegantíssimo desembarca de seu possante veículo, deixa a chave com o valet e entra num restaurante acompanhado pelo mâitre até se acomodar em uma mesa.

Segue-se um diálogo interessante.

-Garçom!

-Sim, senhor. O que vai pedir para beber hoje?

-Não sei. O que você oferece ?

-Nós temos a seu gosto um uísque 18 anos ou uma cachaça embarricada em carvalho ha anos, fabulosos. Os consumidores gostaram tanto que hoje abarrotam os hospitais com úlceras, cirroses e delirium tremens.

-Para entrada é perfeito, mas,se preferir algo soft temos nossas  cervejas nacionais, que fazem propaganda até de estádio de futebol. Elas são perfeitas também pra um acidente de trânsito, mas, convenhamos, sempre tem uma mamãe pra levar pra casa, certo?

-Hum, hum!

-Sugiro ao Sr. que harmonize com uma pasta totalmente transgênica que se não lhe garantir uma doença de Crown, um cancerzinho no futuro é bem certo. Coisa leve, supimpa, como dizia meu avô.

-E pra finalizar podemos lhe oferecer ali no outro salão uma maconha prensada direta do Paraguay ou se tiver planos de “ expansão mental” , uma coisa boa, nossa,  ali do Triângulo da Maconha entre Pernambuco e Bahia.
-Caso esteja em abstinência temos tabaco produtor de impotência e enfisema pulmonar. Daqueles causadores de câncer das Unacons da vida! 

– Gostei, já estou lombrado( risos) com a primeira opção!

-Agora, se o Sr for dar uma esticada e umas estocadas na noite, recomendo um brilho limpo, limpo, da Colômbia. Vai mandar ver na gata até o dia raiar.

– Perfeito. Pode comandar pra gente.                                            

Esse diálogo acima pode verdadeiramente ser assistido num restaurante qualquer nos jardins paulistas, no Leblon no RJ ou no Triângulo do Álcool em BH a qualquer hora do dia ou da noite para desespero da rede de narcotraficantes, caso seja popularizado o consumo de maconha. Uns baseados bestas. Esses agentes do narcotráfico, pousando de bons mocinhos e de boas “moçoilas” nesse tecido social apodrecido de falsidades e hipocrisias e ungidas pelo nascente estado teocrático que vemos e vivemos no Brasil assinam essas sentenças.

A questão do consumo de drogas no país é, propositalmente, objeto de classificação não pelo nível de gravidade à saúde, suas repercussões individuais e coletivas ao sistema de saúde e ao contexto produtivo, como efetivamente deva ser discutida e enfrentada, mas, volto a dizer, tratada apenas como ilícito ou contravenção penal, portanto como caso de policia.
Ora, ora, cara pálida. Se ela atende substancialmente aos interesses dos “malandros oficiais” como dizia o poeta,  ou extra oficiais, escondidos no judiciário, nas polícias de todos os matizes e nos legislativos, além, óbvio,  do sistema financeiro que não quer saber de onde vem a grana, que movimenta seus cofres em bilhões e bilhões, pois traficante nenhum coloca dinheiro embaixo de colchão, por que mudar essa lógica?
Só pra fazer um concessãozinha a pobre e preto vagabundo,  na expressão clichê dos fascistas? A pensar!

Enquanto isso nas quebradas desse Brasil afora, o moleque pretinho sem entrada nas antigas Febem, que passa uma trouxinha ou papelote, pra ganhar a refeição do dia  e é pego pelos meganhas dialoga dessa forma com os “homi”

-Vamo vagabundo, vamo  passar essa trouxinha noutra maloca!

-Mas otoridade…

-Otoridade um cacete!

E o cacete do meganha desce no lombo do pobre, que acaba  tomando inúmeras bordoadas pelo corpo até chegar na penitenciária mais próxima, isso quando chega . Logo esse menor, candidato a maior  é matriculado no curso intensivo de marginalização com data certa para receber um diploma, chamado de Atestado de Óbito, logo ali entre os 17 a 21 anos conforme o SIM- Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde.  Que beleza de formatura,  seu Pedro!

A fome, a insegurança pública, os juros extorsivos escancarados fomentado pelos rentistas da Faria Lima assaltando  o orçamento público, gerando desemprego, empregos precários e desinvestimento técnico e científico para atraso geral. Volta e meia passeiam  incólumes pelas avenidas das grandes cidades em suas Lamborghinis e Porsches matando impunemente quem lhes atravessa o caminho. As vezes esses corruptores se batem com os tais fardados militares, culturalmente  retrógrados, uns  com suas gordas previdências militares, daquelas que surrupiam a previdência pública, tão gordas  a ponto de lhes promover alterações visuais e cognitivas comuns aos fascistas. Todos estes entes  não tem ou não estão submetidos à mesma classificação relativas as drogas. Se são, portanto, eles mesmos as drogas lícitas ou ilícitas ou no miúdo, se é moral, lícito, ético, esse modelo de país que dessa forma nunca será nação!

O gado, populacho idiotizado ou mal intencionado  vai seguindo sem rumo, girando a roda da fortuna da elite sob o manto das pautas conservadoras de costumes, alienadas e alienantes.

Nem um “morrão” de origem  nacional “ expande a mente” desse jeito!

Aff!

 

Wagner Bomfim

28/06/2024

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Mary
Mary
11 meses atrás

Muito bom!!
O verdadeiro cenário do que ocorre no Brasil, onde os conservadores bradam contra a liberação do porte e “dá um tapinha” nas rodas de amig@s.

Lívia Matos
Lívia Matos
11 meses atrás
Responder para  Wagner Bomfim

Verdade 🤣

Lorena
Lorena
11 meses atrás

Aproveitando os trocadilhos dos comentários abaixo, esse texto é um verdadeiro “tapinha” na cara da sociedade. Retrata fielmente o cenário típico de uma sociedade rentista, ao aristocrata, recreio, ao pobre e preto vida breve.

Franklin Passos
Franklin Passos
11 meses atrás

A velha intolerância e a supressão da liberdade civil e da igualdade, que somente vale para o pobre, preto e periférico!

Wagner
Wagner
11 meses atrás
Responder para  Franklin Passos

Disse tudo amigo!

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Comentários

  1. Franklin Passos em Análise
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