O canto do canário
Passei a semana pensando sobre a agenda dos candidatos à prefeitura de Feira de Santana, segunda cidade da Bahia, a 112 km de Salvador.
Sem surpresa vi a programação que contou desde a passagem do Ministro da Casa Civil do governo federal, Rui Costa ate uma carreata por algumas avenidas com o cantor Igor Kanário, arrastando seu séquito de fãs em plena sexta feira de São Cosme e São Damião.
Parcela da população por certo torce o nariz para sua figura como cantor, outra parcela escandalizada, tampa os ouvidos ou fecha os olhos para a representação e significado que envolve esse ato político.
Primeiramente devemos trazer para o debate o que significa o cantor e político Igor Kanário, que nada mais é que o representante das periferias e dos guetos de Salvador, assim como há algum tempo também se impõe como pop-star em Feira de Santana.
Por certo há quem olhe com reservas o seu estilo musical, o Hip Hop, expressão musical mais que centenária, a expor as feridas que atingem em maior proporção os “P”- pretos, pobres e prostituídos pelo capitalismo e seu excludente de cidadania.
Se outros pretendem vinculá-lo ao tráfico de drogas, podemos todos estar equivocados, pois não interessa ao sistema de segurança e judicial, a liberação de drogas, pois sua proibição alimenta o narcotráfico e abarrotam os cofres dos banqueiros. Drogas com comprovados benefícios medicinais, no caso a Canabis Sativa, com potencial de enorme impacto na geração de emprego e renda através de seus inúmeros subprodutos são na ilegalidade a mola propulsora desse sistema hipócrita e corrupto.
Uma coisa é a descriminalização das drogas e do avanço democrático contra as pautas moralistas do fascismo, outra coisa é contrariar os interesses citados que só expõe o povão à porrada e a celas fétidas das inúmeras cadeia.
Há 04 anos, Igor Kanário, ainda no DEM de ACM Neto, arrastou multidões coroando a eleição de um dos piores prefeitos de FSA (há 20 anos no poder). Agora, filiado ao PSB, alinha-se a outro Neto, este do PT, em busca de novo rumo para a cidade.
O canto parlamentar do Igor Kanário nem de longe tem representado as necessidades prementes das grandes populações das favelas e dos guetos, e a burguesia, sabedora disso, tem o condão de corromper as vozes de quase toda resistência.
Instado a participar de uma campanha eleitoral, tem Igor Kanário, portanto, o “perdão” dos donos do poder para ampliar sua pequena fortuna, quando poderia ser um anti-herói a conduzir os insurretos dos guetos.
O canto dos canários visa atrair a fêmea para o amor e perpetuação da espécie. Nesse caso, o canto do Kanário seria um grito de resistência, dissonante do canto erudito e da lógica da mídia cultural que quer embranquecê-lo, por dentro, nominando-o como cantor de axé?
A ver, o final dessa corte à burguesia, ouvindo o canto informal dos canários e pintassilgos.
Vale por fim ouvirmos o canto dos guetos, dos pretos, dos pobres, bem diferentes de certas brancas, opulentas, usurpadoras da negritude baiana ou de certos pretos com dreads nos cabelos e que se intitulam como “o preto que deu certo no Brasil”.
Essa é a pegada, falada, desse canto cada vez mais comum nas periferias das grandes cidades e favelas.
“Canta, canta, passarinho”*
Wagner Bomfim
28/09/2024
P.S. Geraldo Azevedo
Na batida certeira da “tolerância zero”, melhor é mandar esse “representante” do gueto para a casa do canário…
🤣🤣🤣🤣🤣
Pão e circo fazem a festa dos feirenses… e nós a observarmos a exploração da massa espúria q dança e canta no mesmo ritmo de outrora. O q interessa é o poder do porvir..,e tudo como era dantes!
Sinceramente uma vergonha… isso não é cultura. Mas sim uma política prostituída. Lamentável!
Excelente, e uma cereja no bolo essa finalização com referência a uma bela canção que representa a cultura brasileira de verdade