Acordei às 04:30 da manhã e, sob um privilegiado horizonte, decidi estender uma ponte entre mim e o mundo. Assim como quem foge do leito de um hospital por entender-se melhor fora dele, assumindo outras terapias dolorosas, curativas, muitas vezes ineficazes, assim o fiz e silenciosamente deslizei da cama para não acordar quem estava ao meu lado.
O mundo robotizante e fluido das pessoas ditas modernas impõe uma lógica do consumo, inclusive dos afetos, das paixões, da felicidade centrada na necessidade imperiosa do outro ou mesmo do objeto de consumo vendido numa prateleira colorida qualquer.
A bússola que norteia a dita felicidade humana, se é que ela existe, está permanentemente quebrada. Seu ponteiro, influenciado por inúmeros sentimentos, está sempre direcionada para fora dela própria, buscando um Shamgrilá, este espaço quase sempre irreal e insuportavelmente tedioso.
Como um pêndulo de relógio de parede marcando nossos afetos mais nobres ou perversos, nem sempre está ele calibrado. O outro tem o seu próprio relógio, a demarcar as horas, a modular os amores, as tristezas e tragédias.
Trafegamos na insegura via do consumo, onde o afeto alheio é suportável até o ponto em que ele não lhe cause dor, não lhe invoque enfado. E depositamos nossa libido no carro, no cargo, na roupa ou na melhor selfie das redes sociais, esse Eldorado das bigtechs, para suportar a nossa finitude e vazio existencial.
Somos como ilhas, umas juntas às outras, enclausuradas nos seus limites, porém sob um mesmo céu. Podemos modular o pêndulo desse relógio, dos amores, das tragédias shakespearianas ou fazer girar o ponteiro dessa bússola, voltando-o para nós mesmos, estabelecendo pontes entre essas ilhas, todas cheias de humores, de pedras e precipícios, como os nossos próprios, infindáveis.
Assim, nenhum remédio ou terapia nos proporciona felicidade, embora muitos humanos insistam em depositar na caixinha a razão de ser ou de existir em doses infinitesimais.
A nossa ilha mais uma vez se desnuda ao calor do sol. Ao lado, outra ilha ainda goza do frescor da noite. Somos o pêndulo, a bússola.
Wagner Bomfim.
17/11/2024
Enquanto vivermos neste individualismo, sem nos amarmos e buscar a troca de amor entetodos, dando ao outro o melhor de nós mesmos as ilhas irão se perpetuar nesta sociedade cada vez mais vazia de sentimentos!
Maravilhosa viagem que esse texto nos proporciona! Um convite à reflexão sobre nossa realidade e tudo que ela guarda. Nossas opções e escolhas, guiadas ou não pelas cartas náuticas, astrolábios e bússolas e os ventos que nos levam nessa viagem chamada vida.
Obrigado amigo, pela ponte que estendeu unindo nossas percepções e sentimentos
Enquanto acreditarmos na Vida e cultivemos a Amizade , estaremos num Barco que terá uma Bússola cujo Pêndulo nos conduzirá a um destino , chamado ESPERANÇA.
Maravilha, somos isso mesmo, uma bússola com o ponteiro quebrado!