Imprensa “marronzista”!

Como e quando uma notícia chega ao cidadão ela na maioria das vezes traz no seu âmago o viés ideológico de quem a veicula e seus interesses nem sempre dignos.

Digo isso para falar de duas manchetes de jornais baianos que reverberaram a publicação do IBGE contendo os dados sobre a fome e miséria no Brasil nesse último ano.

Antes, deixo claro que essa crônica não é um ensinamento jornalístico, não é meu ofício, mas uma opinião diante do despudor como são tratados os dados de uma instituição séria como o IBGE.

Enquanto um jornal colocava a informação real em manchete de fim de página, com fonte reduzida, onde se lia — “A fome e a miséria atingiram os menores níveis da história conforme o IBGE”, o outro estampava em letras garrafais, em negrito e  ocupando meia página onde se lia – “Lula está mal cotado pelo mercado financeiro conforme pesquisa”.

O inesquecível Odorico Paraguaçu, personagem criado pelo dramaturgo Dias Gomes na novela O Bem Amado, insistentemente reclamava da “imprensa marronzista”. O personagem caricaturava um político baiano que, como o tal, tinha métodos pouco ortodoxos de enriquecer e fazer política em benefício próprio.

Na ficção, como na realidade, criaram um patrimônio financeiro, fizeram súditos e sucessores que mantêm o modelo coronelista de fazer política aqui por essas bandas.

Lá havia uma imprensa livre, informativa, ética. Os dois citados jornais, hoje entregues em estacionamentos de veículos, vendem notícias que, quando não são falsas, vêm distorcidas do seu real significado e importância mantendo a narrativa de que um governo que ostenta indicadores de redução da pobreza é ruim para o país, na velha disputa de Lula x “zelites”.

O recente período da economia cujas condições sociais antagônicas às atualmente vividas pelos brasileiros, com homens em torno de lixões, em filas para ganhar ossos ou comprando pés de galinha em mercados, nada significa para os controladores do orçamento publico. Reduzir a pobreza e a fome é para as “zelites”um revés na luta de classe.

Esta, sim, pode ser nominada de “imprensa marronzista” com justa razão, a contentar financistas e escravocratas.

Wagner Bomfim.

05/12/2024.