Não esquecer jamais!

Resgatar, trazer de volta alguém ou algo que estava desaparecido, assim se pode definir no dicionário.
A Comissão da Verdade, investigação sobre os mortos e desaparecidos ocorridos após o golpe militar de 1964, posta a funcionar somente em 2014, teve o condão de dar visibilidade aos inúmeros crimes cometidos pelas FFAA durante os 21 anos que durou a última ditadura militar no Brasil. Aquele foi um longo e tenebroso período da nossa história, que tentaram apagar com a Anistia de 1985 sem que os crimes fossem investigados e punidos.

 A coragem para sua instalação deve-se ao intuito de passar a limpo uma etapa sangrenta da história, gerando, entretanto, no seio militar, um profundo incômodo, bem como renovou a elite nacional que sempre lhe acobertou os crimes.
 Deixarei para a grande mídia, contudo, falar do prêmio “Globo de Ouro” ganho no domingo 05/91 pela atriz Fernanda Torres. A premiação que assombrou o mundo, fez com que todos os olhos recaíssem tanto sobre o cinema brasileiro, seus atores, diretores e profissionais da arte cênica, mas, sobretudo, sobre a política brasileira que tenta esconder suas feridas seculares de escravidão e torturas tão bem conhecidas de muitos combatentes da antiga ditadura.
O resgate de tão dolorido passado foi retratado na tela do cinema de forma sutil, velada, porém carregado de grande emoção, dando-nos, enquanto espectadores, a esperança de um dia ver a vítima desaparecida ressurgir. A realidade, contudo, foi diferente, mas a resistência de tantas famílias violentadas tem hoje pelo menos um mínimo consolo.
Atrás da face surpresa e emocionada da atriz Fernanda Torres ao receber o prêmio, haviam as faces de emoção de muitos familiares de mortos, de desaparecidos e de torturados pelo regime militar.
 Uma face, para mim, altiva, se anunciava ao fundo. A face de uma torturada pela ditadura militar, a da ex-presidente Dilma Rousseff, que sempre nos faz lembrar que sem a memória  viva, seu ensinamento às novas gerações, não nos colocaremos nunca no rumo de uma plena democracia.
Não devemos, portanto, esquecer  jamais!
 Wagner Bomfim.
06/01/2025.

Tags:

5 2 votos
Article Rating
Inscrever-se
Notificar de
guest

8 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Mariana Carvalho Gouveia
Mariana Carvalho Gouveia
5 meses atrás

Maravilha de texto!

Paulo F Almeida
Paulo F Almeida
5 meses atrás

Breve e conciso relato da impunidade brasileira. Até quando?

Valdinei Lopes
Valdinei Lopes
5 meses atrás

Não esquecer jamais. Mexer em assuntos desagradáveis é, muitas vezes, vacinar-se de reincidência. É terapêutico em certo sentido. Nada tem de masoquismo mas, ao contrário, de fortalecer-se para enfrentar o mal que espreita e espera oportunidade para atacar. O tempo é sempre agora.

Lorena
Lorena
5 meses atrás

Belíssimo texto. Achei interessante a precisão “última ditadura militar no Brasil”, para que jamais esqueçamos e tais atrocidades jamais se repitam. “Nunca más”

Franklin Passos
Franklin Passos
4 meses atrás

Aquilo que há de pior em nosso país, forças nefastas, armadas e covardes, desalmadas, minúsculas, desprezíveis e tão desnecessárias. A parte mais suja dos golpes. Um peso, merecidamente, desprezo, nojo e ódio.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Comentários

  1. Franklin Passos em Análise
8
0
Adoraria saber sua opinião, comente.x