O lava pés.
Há dois mil anos, um palestino de nome Yeshua (em hebraico), exatamente na quinta-feira que antecedeu à sua morte, passou a lavar os pés de todos os discípulos que o acompanhavam na nominada santa ceia. O Evangelho de João, 13, descreve minuciosamente todo o signo e toda significância desse ato estampado no livro maior do cristianismo, a Bíblia.
A lavagem dos pés dos apóstolos por Jesus Cristo (em grego) traduz a humildade, o sentimento de servir ao próximo, a mensagem de que ninguém é superior ao seu semelhante. Tudo isso está inserto nessa passagem do Evangelho, escrito muitos e muitos anos após a intensa tortura e subsequente morte a que ele foi condenado. Esse suplício deu-se antes de tudo por contestar o regime político e econômico imposto pelo império romano à época.
Exatamente hoje, quinta-feira que antecede a sexta-feira da Paixão, uma imagem estampada na web mostra o ex-presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, seminu, sentado em uma cadeira de hospital, ostentando um curativo preto em seu adiposo abdômen e tendo aos seus pés a mulher Michelle. Ela, em posição de submissão, massageia-lhe os pés ao tempo que lhe calça os pés com uma meia amarela.
Os incautos, os desprovidos de cognição e os fanáticos religiosos, por certo, irão introjetar em suas mentes a ideia de que um mártir está sendo cuidado, que sofre, mas também de que há alguém que cuida daquele sofrido homem e, assim sendo, é merecedora de louvores, prêmios e expiações.
É inegável o apelativo jogo de marketing, abusando da significação e do caro simbolismo que isto representa para o cristianismo. Um homem que sabidamente defende a tortura, defende o assassinato do semelhante ao propor que o país adote a pena de morte no estilo “bandido bom é bandido morto” nada tem de sagrado, nada tem de solidário. Portanto, as imagens veiculadas pela sua assessoria de imprensa mimetizando um ato realizado por Cristo há dois mil anos, antes de sua morte, nada mais são que uma demonstração de escárnio para com a população. Essa mesma população que não obteve desses personagens a devida comiseração e empatia, quando da morte de centenas de milhares de pessoas no período da pandemia por COVID.
Entre déficit de cognição, de fanatismo ou práticas típicas dos antigos fariseus, hoje muito bem representados pelo invisível “ mercado” , continuamos a mercê dos novos exploradores e sobretudo de falsos messias.
Wagner Bomfim.
17/04/2025.
Incrivelmente real !
Sugiro escrever a segunda parte que deve ter como título : “Lavando as mãos “
Bjs
Incrivelmente real !
Sugiro que seja escrito a segunda parte , que deve ter como título : “ Lavando as mãos “
Perfeito!!! A questão não é ideologica, mas sim que se trata de um ser humano desprezivel, voce foi cirurgico, trocadilho à parte !!!
Caro Wagner, Jesus, dizem, necessitou de 1000 anos para se materializar neste planetinha complicado! Deixou ensinamentos super atuais, mas incompreendidos, deturpados e explorados para fins lucrativos. Neste cenário apocalíptico, temos vários candidatos à besta e aos falsos profetas, é só prestar atenção. “A lição sabemos de cor, só nos falta aprender”.
Muito interessante e oportuna análise! Infelizmente é verdadeira a sua percepção :((
Excelente texto!
Bandido bom é bandido com pés lavados