Da indiferença e da negação.
Pior que o revés ao outro, a negação da sua voz, a expressão da sua alma, está a completa indiferença, a nulidade do ser e estar nesse mundo, a inexistência de sua marca na efemeridade da vida.
Portanto, falemos agora de alguém. Esse ser invisível que habita todos os cantos, esbarra conosco nas ruas, nas praças e becos do mundo.
Mas quero falar de uns certos Alguéns, um que foi eleito líder de um grande rebanho, que guiou seus súditos durante doze anos para novos caminhos, falando para que seus doze apóstolos voltassem a pregar a solidariedade, a compaixão e o amor ao próximo.
Um certo Alguém também disse que toda “forma de amar vale a pena”, e que dessa e de todas as formas os receberia de braços abertos. Que com eles comeriam do mesmo pão, repartido em mil pedaços, que caminhariam juntos calçando simples sandálias da humildade até onde o corpo cansado pudesse chegar.

Esse Alguém repousa hoje junto a uma cadela, sereno, num cemitério nos pampas.
Outro Alguém disse ser mais que pecado matar mulheres, crianças sem futuro, idosos e todos os outros homens probos, em todas as guerras inúteis que os mercadores do medo assim as fazem, como hoje acontece na Ucrânia, no Sudão, na Síria e em Gaza.
Genocídios espetaculizados à luz do dia, para deleite dos usurpadores da terra e da água.
Outro Alguém também disse que o mundo precisa de tolerância e igualdade, mas esse Alguém é proscrito.
Alguém, alguém, alguém.
Alguém, alguém, alguém.

Certo Alguém não tem cara nesse lugar, Alguém é mudo, não tem ouvintes.
Um Alguém contentou-se com uma cama e com uma refeição simples, falando, falando e falando.
Outro Alguém, discursa na Academia Francesa de Letras, o segundo brasileiro a receber essa honraria, o 20* imortal, e roga pela paz, roga para que seu povo tenha o direito a três refeições diárias, mas, por aqui, não existe a sua voz nos salões dourados, portanto, não será ouvida em nenhum canto, em nenhuma das outras Academias de Letras que se calam mudas, mundo afora.
Os fariseus de sempre apontam o dedo na direção desse Alguém, dizem;
— Por que cometes tão vilipendioso crime, acabar com a servidão, com a escravidão permanente?
Esse Alguém não merece ser visto, não pode ser ouvido. Certo Alguém sequer deve ser esquecido. Alguém nunca existiu.
Alguém Wagner Bomfim.
13/06/2025.