Um dia pra denunciar

Enquanto a internet hoje está abarrotada de mensagens, muitas vezes piegas, com empresas de todos os tamanhos fazendo coraçõezinhos de papel, algumas distribuindo até flores para algumas trabalhadoras em alusão ao Dia Internacional da Mulher devemos encarar de frente a questão de gênero em todos os aspectos do dia a dia daquelas que são a maioria da população, mas que não conseguiu até o presente ter os seus direitos, trabalhistas, sexuais, reprodutivos e políticos integralmente respeitados.

O governo Lula da Silva que assumiu  a pouco mais de dois meses com a retomada de politicas públicas e a recondução do pais para uma “normalidade” tem se pronunciado em inúmeros eventos sobre a necessária igualdade salarial entre homens e mulheres quando estes desempenham as mesmas funções numa empresa. Esse é um discurso mais afirmativo porém desnecessário e acaba jogando pra plateia, uma vez que já existe a Lei 14.457/2022 além do que a própria CLT já estabelece essa igualdade desde sua criação, sem que de fato haja o cumprimento adequado por inúmeras razões insertas tanto em regras trabalhistas quanto nas especificidades de cada empresa.

A questão dos direitos sexuais e reprodutivos é um outro ponto a colocar em discussão nesse dia e, assunto espinhoso para uns, tem sofrido um retrocesso estupendo em virtude da pauta conservadora ter proporcionado uma limitação de direitos, que se supunha já sedimentada dentro do congresso nacional e contando também com a omissão e descompromisso dos tribunais diante do regramento constitucional ao, como sempre, colocar o corpo da mulher à disposição do estado. Exemplo disso é a restrição ao direito ao aborto em todas as circunstâncias, além das meramente postas como fruto de estupro ou má formação do embrião mas que enfrenta transgressão da própria justiça. Vide o caso da menina capixaba de 11 anos que sofreu assédio até da ex ministra da ( sic) família.

Essa manipulação dos corpos femininos é responsável também por índices alarmantes de violência domestica e por elevados índices de feminicídio no Brasil, tendo a Bahia, não tão brejeira, como um dos estados campeões de crimes contra a mulher no nordeste. Só para fundamentar houve um aumento de 5% de mortes de mulheres em ambiente domiciliar entre 2021 a 2022 segundo o Atlas da Violência.

Entretanto , a violência contra os homens em ambiente domiciliar e a bidirecionalidade nos casos de violência sexual( situações em que ambos se vitimam) tem sido elevadas e similares. Que essa assertiva não seja entendida pela leitora como “ passar pano” para a violência sofrida pelas mulheres, condição a ponto de ocorrer 01 morte de mulheres a cada 06 horas no Brasil. Pontuo apenas para chamar atenção a esse fenômeno social terrível que é a violência domestica cada vez mais alarmante e que é piorada com a degradação das condições de vida da população brasileira, em números menores que o existente em países como Canadá e Europa.

Por certo poderíamos enumerar uma interminável lista de conquistas das mulheres ao longo do último século, mas, ainda as considero insuficientes, posto que a despeito de todo o avanço científico, da informação à palma da mão e da maior liberalidade de costumes, o corpo da mulher continua sendo um objeto de satisfação para uma sociedade patriarcal, conservadora e machista.

Não avançamos social e culturalmente ao ponto de ver na mulher um outro gênero merecedor do respeito e igualdade, infelizmente.

O que há para comemorar em apenas um dia minha amiga?

Wagner Bomfim

08/03/2023

Tags:

0 0 votos
Article Rating
Inscrever-se
Notificar de
guest

0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Comentários

  1. Neci Soarea em Análise
0
Adoraria saber sua opinião, comente.x