Movimento das Mulheres

Muitas e muitos dirão que não tenho lugar de fala, palavra tão em voga, tão em moda ou modismo, que esse não seria um bastão a carregar, talvez até de forma sectária vez que isso é parte do todo, do social, do  nosso dia a dia cabendo a todos nós amplificarmos o debate.

            Dela vim, com elas convivo e para ela              voltarei um dia , simbolicamente falando sobre as mulheres, sobre a mãe terra!

Mas é estarrecedor vermos o posicionamento de parlamentares, mulheres deputadas, contrárias à igualdade salarial entre os sexos em discussão ocorrida no congresso nacional esta semana. Mulheres brancas, recebendo polpudos salários e representando uma parcela da população que se submete a esse quadro de submissão e subserviência num estado machista e patriarcal.

Lá, no parlamento branco e machista, teve até um ex- Procurador, da República  de Curitiba, escudado na imunidade parlamentar para não pagar pelos seus crimes, que com uma Bíblia cristã nas mãos sujas de inúmeros pecados( ganância é um deles), pregava a submissão das mulheres ao patriarcado e se arvorava em dizer que essas mulheres não teriam direito a salário igual ao dos homens, citando capítulos e versículos escritos há milênios atrás. 

É estarrecedor o nível de conhecimento e a promíscua introdução do fundamentalismo religioso aliado a uma pobreza da ciência política que ostentam os nossos parlamentares, independente de partido político. Valem -se da ignorância, da falta quase que total de educação formal da população, para ludibria-la e aliena-la a seus interesses pessoais. 

A estupidez é tamanha, pois a igualdade já está inserta na CF de 1988  e, portanto, desnecessário um Projeto de Lei para regulamentar o que já está escrito.

Porém, o que disseram as ruas, as novas ruas, entre gritos, embates, chiliques e pancadarias, no caso as redes sociais com seus algoritmos foi uma decepção ímpar, um assombro geral. Apenas o PT-Partido dos Trabalhadores resmungou, posto que o Presidente da República Lula da Silva defendeu, mais uma vez, numa entrevista após a coroação do Rei Charles III, a oportuna e necessária igualdade salarial entre homens e mulheres. As nossas representantes femininas, em todas as instituições estão mudas e omissas.

Mas, existe um movimento de mulheres nesse república tropical cristã, patriarcal e conservadora ? Quais são os resultados desses movimentos na redução das desigualdades sociais,  do feminicídio e de seus precursores, no caso a violência doméstica, o estupro, por exemplo?

Existem mulheres  em movimento dentro dos diversos coletivos femininos, nesse universo onde mais da metade da população brasileira é constituída de mulheres? Onde estão os 51% dessas mulheres que são responsáveis por sustentarem, sozinhas, seus lares sem a presença da figura ou mesmo da contribuição masculina ? O que vimos foram e são as ruas, virtuais e físicas, totalmente vazias, acéfalas. São questões a serem respondidas sobretudo por aquelas e aqueles que podem se apropriar do lugar de fala do ponto de vista institucional.

Enquanto isso, na instantaneidade dos fatos, onde a notícia é um produto consumido quase que na velocidade da luz, perdendo sua importância rapidamente, a sociedade necessita de ações concretas que coloquem homens e mulheres em igualdade em todos os aspectos da vida atual. Desde o respeito aos direitos reprodutivos das mulheres, bem como democratizar o acesso pleno à educação, à saúde coletiva e criar as oportunidade para obtenção de trabalho e renda.

Um Estado Democrático de Direito não existe sem que os aspectos  elencados acima sejam exercidos de fato em sua plenitude. Os corpos femininos num estado escravista como o nosso são historicamente reduzidos a meros instrumentos de reprodução, servindo apenas para fornecer mão de obra escrava a baixo custo nesse país sem qualquer cidadania, não se enganem!

Nesse caldeirão de ignomínia sobra assédio de todos os matizes, impera o racismo, a violência doméstica que descamba até para o feminicídio, a miserabilidade nas periferias das cidades. Tudo sob a complacência do Estado brasileiro, dos seus três poderes que fazem de conta que lutam para construir uma nação civilizada e sobretudo da sua elite escravocrata que insiste em manter o país ainda no século XIX.

Movimento de mulheres ou Mulheres em Movimento? Onde está a interseção necessária que nos proporcione resultantes emancipatórias.?

Eis a questão !

 

Wagner Bomfim

09/05/2023

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Paulo Fernando de Almeida

Enquanto menino vestir azul e menina rosa, não existirá mulher em movimento, muito menos movimento de mulheres!

Lorena
Lorena
2 anos atrás

Lamentável o atraso que esses anos de Temer e Bolsonaro causaram na sociedade. Que a mulher possa retomar suas pautas pautas com temas de relevância para além do azul/rosa bem colocado pelo Paulo.

Venicio Oliveira de Moraes
Venicio Oliveira de Moraes
2 anos atrás

Enquanto o carro chefe do debate for a igualdadide econômica, continuaremos nos mesmos comportamentos arcaicos. O discurso tem q mudar para buscar igualdade de direitos e deveres das mulheres. Aí sim o respeito e valorização das mulheres serão praticados.

Franklin Passos
Franklin Passos
2 anos atrás

Uma vez aberta a Caixa de Pandora, serão necessárias várias décadas para que o bem consiga sobrepujar o mal. Que as mulheres, negras, pobres, excluídas(os) e maiorias periféricas façam a diferença e se sobressaiam contra a doutrinação branca, rica e supremacista!

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Comentários

  1. Neci Soarea em Análise
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