Outro dia entrei num desse supermercados para animais e fiquei ali a observar um vaso contendo plantas carnívoras. Seu formato lembrava uma vulva quase elíptica e sua cor encarnada no interior, ora exposta, alimentou meus pensamentos libidinosos e como não poderia despreza-lo, portanto, fiquei ali, contemplativo.

Logo, entrou na loja passando pelo corredor uma mulher aloirada e avantajada, vestida com essas  roupas de ginástica, bem colada ao corpo,  costurada com nervuras que lhe separavam as metades e adentravam até as entranhas da sua alma.

Essa deve ser uma Coach sexual, pensei,  e desviando o olhar daquela carnívora, voltei minha atenção para os lábios verde vinho da plantinha, que me olhava séria e recriminadora.

Você deve estar imaginando o que será essa Coach sexual, mas é simples  explicar.

-“O neoliberalismo é uma disgraca” , diz o amigo Tonhão lá de Ubaranas.

Nessa falta de emprego no mundo “os cara joga a responsa  pra suas costa” , assim ele resume toda a teoria econômica marxista, numa roda de dominó domingo pela manhã.

Mas explico mais. Coach sexual nada mais é que aquelas patricinhas que frequentam as academias de ginástica em horários específicos,  trajando seus body e leggings mais que insinuantes, desproporcionais ao momento e reveladores de proporções ali dispensáveis ( tomei um curso com uma coach stylist para dominar esse linguajar). Essas patricinhas, portanto, estão a empreender para o bem do neoliberalismo, nesse nicho de mercado altamente rentável que é a indústria do sexo, pois, pois!

Não se surpreendam, pois hoje tem Coach de tudo. Coach de gestão, coach de esportes, coach de coach e inclusive pasmem, tem até um marginal coach  que é candidato a prefeito da cidade de São Paulo( ô povo elitizado e conhecedor das mumunhas do neoliberalismo esse de São Paulo, impressionante!).

Pois bem, voltando a minha relação existencial botânica,  os lábios da planta, digo, as pétalas, digo, as bandas da carnívora, sei lá , abria-se à minha curiosidade e lá fui eu iniciar a minha experimentação científica.

Fui colocando lentamente o dedo por sobre seus espinhos escuros externos, na etapa sensível do contato inicial.

Confesso que rolou até uma química entre nós,  pois ela, a planta, ao ser tocada, se abriu por inteira expondo sua entranhas vinhosas, parecia satisfeita.

Esqueci-me que a arte da sedução tem suas artimanhas e segui, curioso.

Lá, cheguei a  ver um besouro recém capturado. Eu, naquela hora nada temi, dado a desproporção corpórea entre os dois seres vivos, entre nós dois, e avançando, logo que  adentrei o dedo, senti que seus espinhos comprimiam meu dedo maior, como que sugando-o.

Naquele instante parece que fui inoculado por uma toxina pois minha língua ficou caindo, eu salivava qual um Golden retriever e as meninas dos olhos (as pupilas ) abriam e fechavam e o coração, coitado, disparava. Oh! Shakespeare! Oh! Schopenhauer!

Juro que até ouvi a planta carnívora dizer;

-Podemos fazer sua inscrição EaD no nosso curso, aqui mesmo. Temos também o nosso curso presencial com direito a uma sessão de oralidades! Parcelas a partir de 69! Você vai… amar!

Suei frio, tenho certeza. Levantei a cabeça, deixei a ração do pet no carrinho e fui saindo daquele mercado meio tonto.
– Ô disgraça!

A moça do caixa me olhou intrigada, sem entender nada.

Juro que não entro mais lá na loja, muito menos irei pra academia de ginástica em certos horários.

Estamos correndo sérios riscos com esses coach e essas plantas carnívoras!

 

Wagner Bomfim

01/09/2024.