Vestida  para matar

Se você quer esconder a cabeça na terra, qual avestruz, fugindo dos problemas que nos afligem no dia a dia conflituoso das nossas cidades, sugiro que não leia esse texto. Sim, não leia, pois ele dirá coisas que você, cara amiga e amigo, por certo não quer ouvir.

A realidade inevitavelmente é cruel, gera sofrimento muito grande, causa um adoecimento psíquico por vezes insuportável para muita gente, contudo, é de exposição às intempéries que um tronco se fortalece, dá flores, frutos e se perpetua.

Entretanto,

preciso ir direto ao assunto e falar sobre a sentença que o Tribunal de Justiça Militar proferiu essa semana. Como resultado desse julgamento os oito militares do exército que desferiram 257 tiros de fuzil contra o carro de um músico no Rio de Janeiro, matando-o sem qualquer motivo, foram condenados a simplórios 3 anos de punição e, pasmem, para cumprir a pena em regime aberto, ou seja; literalmente  foram absolvidos do cruel assassinato.

Esse é mais um tapa na cara que a justiça militar(???), que não condena nenhum dos seus criminosos, desfere e ofende toda a sociedade com sua ignomínia.

Quando a imprensa internacional pergunta para que servem as FFAA brasileiras, ela revela um total desconhecimento( ironia nossa) dos interesses do Estado brasileiro.
Há séculos, instituiu-se um projeto necropolitico de eliminar do convívio com o branco descendente europeu, os pobres, pretos e bastardos que enodoam o tecido social (outra ironia) pela privação , seja de alimentos, seja dos direitos sociais mais básicos como saúde, educação e segurança e ou mesmo através desses assassínios velados.

São as castas criadas pelo próprio capital, assentados nos diversos parlamentos, nos tribunais de toda ordem e nas forças de segurança fardadas, que referendam os alarmantes índices de feminicídios, de chacinas em favelas e outras abordagens deletérias que, vês ou outra,  expõe a um “dano colateral” um ou uma pessoa de classe média branca como vítima.

Não continue a ler esse artigo, amiga ou amigo, se lhe causa dor e sobretudo por ser Natal e festas de fim de ano e assuntos como esses não “ devem” ocupar seu coração e mente. Nessa hora de festa cristã onde tudo se resume a antigas cartas e telegramas, a emoticon e cards recheados de luzes e mensagens de autoajuda. Vem essas “novas” inevitavelmente recheadas de vazias palavras,  expondo um Jesus Cristo como um ser transcendental além das agruras humanas quando em verdade fora um homem corajoso a denunciar a humilhação e a usura de Roma e Judeia. 

Hoje, os teocratas diriam ou dizem; “é  um comunista”!

As diversas forças militares de um lado, a milícia e os traficantes do varejo do outro, vestidas para matar, com salvo conduto para o assassínio diuturno, apontam suas armas quentes a um alvo fácil, quais sejam, nós, os pretos, os pobres, as mulheres, os idosos e crianças.

Mas essa é uma história que se repete, não é mesmo? Assim como nós, que repetimos o mantra da indignação, da insubordinação, apesar da dor que também carregamos, para se contrapor a esse tapa desferido em nossa cara! 

 E tu, oferecerás a outra face?

E tu, negarás o teu irmão por três vezes?

 Wagner Bomfim.

 24/12/2024