A cutícula verde oliva

     

 A cutícula verde oliva 

          Desde criança Eliotério tinha um desejo doentio de fazer parte do antigo  batalhão militar, lá nos arredores de Itaberaba. Brincadeiras de infância só tinham graça quando ele se esgueirava pelas paredes empunhando uma pistola de madeira e disparando tiros virtuais na direção de supostos inimigos. 

          Dividia o seu pequeno mundo entre soldados, continências e sujos bandidos de final da tarde.

O tempo passou e quase atingindo a maioridade civil apresentou-se a uma junta militar para, além de ansiosamente servir a uma força armada, passar os dias preparando-se para uma guerra ilusória, sabemos.


          Chegado o dia do alistamento às forças armadas e aguardando sob a varanda quente do quartel foi chamado para uma grande sala onde se perfilou frente àquele que parecia ser um médico militar, posto que se encontrava todo de branco, sendo logo orientado a tirar  a roupa para inspeção física. 

          Estava Eliotério ali,  frente a estranhos, completamente nu, pelado, assim como veio ao mundo.  Ao seu lado esquerdo estavam mais três jovens, entre raquíticos e pançudos que disputavam forçosamente a vaga de recruta pela qual poderia receber um salário mínimo de soldo mensal. 


          O médico olhou rapidamente cada um dos alistados dos pés a cabeça se  detendo sobretudo na observação da genitália com pedido de manobras , tipo soprar, gerando  com isso uma  subsequente profusão de gases quase inflamáveis. Logo,  ordenou que três daqueles jovens  se retirassem da sala deixando Eliotério gelado, suando frio, com a pele brilhosa e o coração, esse, coitado, batendo a quase mil por hora.

          Eliotério pensava que sofreria alguma punição, só podia ter feito algo errado ou que,por certo, não tinha os requisitos necessários pra servir a pátria amada.

          Num milésimo de segundos passou mil coisas por sua cabeça até que o militar mandou que ele se aproximasse um pouco mais, a menos de um metro da mesa. Ato contínuo enfiou a mão na gaveta da mesa, e Eliotério imaginava uma navalha, um facão, e de forma brusca de lá acabou retirando um pequeno estojo em couro com a insígnia das forças armadas em cor verde oliva. 


          Eliotério não sabia o que lhe esperava, só tinha vontade de sair correndo e só lembrava dos amigos do bairro a gritar; – “Teo da Jega”, “Teo da Jega”. Sentiu-se a princípio aliviado quando por fim o militar despejou sobre a mesa, alicates, lixas e espátulas de cutículas, além de uns frascos de esmalte, ao mesmo tempo que estendia o dorso da mão deixando que ele visse as unhas bem cuidadas e brilhosas, lhe perguntando logo a seguir;


– Que cor você gostou ? Pergunta que foi seguida de uma piscadela de olho!

Elioterio relaxou, sorriu meio amarelo e pensou:

 -estou empregado, pelo menos por um ano!

Wagner Bomfim 

17/01/2022



P.S. O Exército brasileiro abriu licitação para compra de algumas objetos inusitados. Destaca-se a aquisição de Kit Manicure 💅💅💅💅💅. 

A sociedade deseja saber se esse é um novo armamento de combate de guerra. 

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Unknown
3 anos atrás

GOSTO DE SUA MANEIRA DE ESCREVER E ANALISAR FATOS DE MANEIRA SUTIL E INTELIGENTE. ABRS.

Marirone Lima
3 anos atrás

Kkķkkkkkkkkkkkkk esse povo vestido de azeitona não tem mais pra quê

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Comentários

  1. Neci Soarea em Análise
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