O Pequeno Samurai

 

 

                                                                              Era uma manhã de abril, dessas quando algumas nuvens no céu ainda fazem pequenos nimbos, a despertar o nosso pensamento mágico, a contrastar com os temores que pairam no horizonte foi que me chegou a mensagem, candente, melancólica, como as cores daquele dias de abril. Vinha, a mensagem, como as tintas dos lápis de cor que logo se acabavam em meio aos desenhos da infância e tal qual o mapa mundi encadernado, de duas faces, uma cor mansamente escondida nas noites veladas de seus sonhos. 

          Numa velha cadeira talhada em pau d’arco, um velho corpo rangia, rangia e rangia. Lembrava de suas caminhadas ao sopé dos Bálcãs, quase soçobrando às encostas que o Mar Adriático lambia com suas calmas ondas azuis. Por onde andara, pensou, aquele pequeno samurai a brandir sua espada reluzente de laminado papel, que queria combater os centuriões romanos vindos do norte, da Venezia, de Trieste e de Split? Um pequeno samurai, náufrago perdido de outras terras do leste, tendo sob os seus pequeninos pés uma insuspeita biga feita em madeira e teimosos cães dálmatas em lugar de fogosos cavalos, marchando céleres de encontro à Doriana, a Teimosa Grega. 

            Furankurin, desde cedo, mostrava-se um irrequieto garoto, encarnava um gosto pelas coisas do oriente, um pequeno samurai. Por vezes passava longas e tormentosas temporadas desaparecido, inventando novos reinos, lugares de nomes estranhos tais como República das Curitibas, Quedas de Paulo Afonso, terras imaginárias, tudo pra desassossego das gueixas que alimentavam projetos e desejos sobre aquele pródigo samurai.

              Mas, nada mais importava a Furankurin senão o combate contra o inimigo Deocleciano e sua amante Doriana, tirana dos povos do leste, dos povos balcânicos, desde Liubliana, passando por Dubrovnik até Tirana, a riquíssima terra dos metais.  

           

A mensagem vinha em ideogramas antigos, de difícil dedução para as vistas cansadas. Eram kanjis marcados por uma escrita ainda infantil, mas, de talho firme e decidido, típico dos grandes guerreiros, combatentes de terras longínquas, clamores de liberdade.


          

A cadeira antiga rangia, o corpo doía, enquanto decifrava a mensagem do pequeno samurai. Levantou-se, olhando firmemente as nuvens ainda brancas de um melancólico céu de abril e desembainhando sua pequena wakizashi sobre um papel pardo, respirou profundamente. Era chegado o momento de recomeçar a luta. Furankurin o acordara para um novo dia.



Humilde resposta de um velho combatente ao pequeno Samurai Furankurin.

Wagner Bomfim

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Wagner
4 anos atrás

Obrigado querida!

Wagner
4 anos atrás

Com certeza Manuela!

Hogla
4 anos atrás

Diferente e instigante: gostei!

Manuela
Manuela
4 anos atrás

Lembro-me sempre dos samurais e seu código de conduta recheado de coragem e honra – Bushido! Nesses dias colocamos as nossas armaduras e espadas, mas amanhã, quem sabe, degustaremos um suave chá ao entardecer com as cerejeiras…

Wagner
4 anos atrás

Seguir, aprendendo a jogar, a lutar sempre!

Wagner
4 anos atrás

Grato pelo reconhecimento. Estimulo pra continuar aprendendo.

Wagner
4 anos atrás

Que bom incentivo!

Wagner
4 anos atrás

Sentimentos de viagens e lutas por hora interrompidos pela tormenta pela qual passamos!

Unknown
4 anos atrás

Sempre maravilhoso!!!

Unknown
4 anos atrás

Imagens, percepções e sentidos numa narrativa envolvente.😍

Alexandra Patrocínio
4 anos atrás

Amei♥️

Claudia Ramos
4 anos atrás

Lindo e envolvente texto meu amigo !
Parabéns! Imagens lindas ! 👏👏👏👏🥰🥰🥰🥰🥰🌟🌟🌟🌟🌟

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Comentários

  1. Neci Soarea em Análise
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