Conta a Santa escritura
Que num certo ano cristão
Surgiu uma praga impura
Causando sofreguidão
Mostrando a todos os homens
Uma vida triste de solidão.
Que seria uma pandemia
De algo que se alastrava
Pelas fronteiras num dia
Bastava pensar na bicha
Que logo ela acorria.
Chamaram de peste chinesa
Por um povo branco e ardido
Mas logo se percebeu
Que o bicho foi ofendido
Por não ter nação ou cor
Deixando tudo encardido.
Um discurso envergonhado
Dum político amarelo
Escondendo de seu povo
A verdade em paralelo
Pois a doença existia
Desde que inventaram marmelo.
As igrejas bateram sinos
Outras louvores e atabaque
Mas num país tropical
O que se viu foi achaque
“E daí ? “ “não sou coveiro “!
Cada um que se lasque.

Diante de tal infâmia
O vírus foi desafiado
Pois tinha diante de si
O verdadeiro enviado
Começando uma guerra santa
Contra um demônio safado.
De sua força e razão
O cramulhão já dizia
Que só maricas então
Pegava uma gripezinha
Atletas de contramão.
Falar em epidemia
É só uma estupidez
Sabemos que essa bicha
Vai além da sensatez
Pois a natureza nos cobra
Um preço de cada vez.
Sem dó e sem piedade
Destruíram a fauna e flora
A ganância e a fartura
Ladeiam a face que chora
Pela fome, dor e tristeza
Daquele que tanto implora.
São centenas desse vírus
Estudados de montão
São todos previsíveis
Mas não se importaram não
Com a próxima epidemia
E com mais devastação.
O nome disso é Sindemia
Esta ação deletéria
Que o homem vem cometendo
Mas a coisa é muito séria
Não sei se aqui restará
Alguém na próxima miséria.
Em meio a tal rachadinha
Sequer olha pro lado.
O vírus, assim é chamado
Vai matando de montão
Artista, idoso, ou gordinho
São mil a cada plantão
Nem a Hilux sobra
Pra chorar o seu bufão.
Mas a peleja é muito triste
Entre o vírus e o filho do cão
Um mata sem avisar
O outro já avisa então
Que arminha tudo cura
E que será a solução .
Mas o demônio encontrou
E não se faz de rogado
Tem apoio do jaleco branco
E daquele branco togado
Fingindo propagandear
Remédio pra todo lado.
A máfia de branco então
Aplaude com estupidez
Já não bastasse o passado
De perda da honradez
Agora prescreve veneno
Com aura de sensatez.
Foram pra rua inda ontem
Pra xingar uma presidenta
Hoje mostra a sua cara
Imbecil, escrota, modorrenta
Mostrando que branco é o jaleco
Porém sem massa cinzenta.
De cinco séculos anil
São a pura “ cucuracha”
Rondando o próximo barril. .
Na ceia da casa grande
São Ganimedes sedentos
De umas migalhas e restos
Sem honradez e sem tentos
Nesse desfile insano
São serviçais fedorentos.
A peste já se alastrou
Pra gozo do cramulhão
O vírus faz sua parte
Nesse inferno de então
E corpos jazem aos montes
Em valas e solidão.
Quem ganha essa peleja
Ninguém haverá de dizer
Assistidos por esculápios
Cúmplices por nada fazer
Apostando pro lado errado
Omitindo-se do saber.
Nem Dante Alighieri
Podia prever que um dia
Tem demônio de montão
Doutores de branco e de preto
Conluio com o cramulhão
O povo assiste a hora
Só de escolher seu caixão.
Esse recado foi dado
Por um solitário andarilho
Que já viu muita peleja
Sem perder o passo e o trilho
Hoje apenas soluça uns ais
Na viola esse estribilho.
Tem vergonha do doutor
Prefere até uma mezinha
Pois quem devia tratar
Do vírus da gripezinha
Faz muxoxo e debocha
Dos reclamos da gentinha.
Amanhã será outro dia
E O Coiso vai sumir
Pro fundo do calabouço
Onde vai se consumir
O vírus permanecendo
Na senda do nosso devir.
Do vírus de face curu
Cúmplice de tantos doutores
Vestidos de surucucu
Marcados pra sempre na história
Amigos do Belzebu.
O coração do matuto
Sofre de assombração
Renega aqueles que um dia
Teve como louvação
Hoje carrega no peito
A culpa, a expiação.
Termina o relato vencido E o inimigo à espreita
E um coração palpitado Pelas dores da maleita
Depois dessa pandemia Outra também será feita.
Do vírus, do capiroto
Dos doutores sem perdão
Fica minha lembrança fraterna
E o abraço só noutra ocasião.
Wagner Bomfim
Imagens: br.pinterest.com
Que pena ser esse cordel tão verdadeiro!
Fabuloso, Wagner!
Triste realidade