A primeira vez que te vi, meus olhos, miúdos como os teus, se encheram, olhos d’água, à tua presença imponente.
Cresceu entre tu e eu um pulsar incessante. Percorria um tremor fino nas mãos, músculo após músculo. Teus largos e recônditos espaços ficavam sempre pequenos quando tu, solícita, matriz de tantos outros, matiz de tantas cores na primavera dos meus sonhos, te deixavas invadir.

Quantas vezes, cansado, deitei minha cabeça no teu colo, no teu peito, e tu, princesa, como uma mãe resignada, me acolheu após tantos desatinos juvenis.
Vi teus encantos atraírem outros amores, nomes incontáveis que te cantaram, mas nem por isso me senti ofendido, enciumado. Elegia sempre teu amplo corpo, teus sinais que à luz do sol posto de abril, destacava. Que nas noites vazias de agosto, me aquecia.
Mas que fizeste princesa? Que fiz eu? Deixei-te por instantes, por certo sem querer, com a angústia de quem se vê apartado, rês vagando por terras áridas, coração lentamente pulsando e uma ânsia constante de retorno.

Que fiz eu? Que fizeste? Expuseste tua singela nudez ao estranho passageiro. Beberam do teu néctar, te roubaram o viço e a flor que brincava entre teus caudalosos cabelos murchou no calor dos tempos. Anunciaram tempestades. Fartaram-se continuamente de ti, te difamaram e desprezaram.
Hoje te vejo assim,

musa dos meus desejos contidos, ofendida na tua importância, ofuscada na tua beleza. Já não passeias pelas horas com a desenvoltura dos teus dias primeiros, não perambulas absorta com a solidão de tuas noites. Tua saúde tornou-se frágil, teu corpo exposto e não te cobri.
Que rumo seguiste? Que fio usaste na minha ausência para compor toalha tão disforme, tão enodoada?

Onde eu estava que não te vi seguir errante, tropeçando nas letras que, uma a uma, compunham o teu e o meu poema? Onde te escondeste que meus olhos não conseguem mais te ver, úmidos, entristecidos?
Minha visão embotada, teu perfil embotado. Fui usado pela vida, princesa. Foste usada pelo tempo.

Hoje, entre as horas cinzentas, a melancolia entranhada, caminhamos, juntos, passos nem sempre tão firmes, nem sempre tão precisos na direção do amanhã incerto.
P.S. O meu abraço a Feira de Santana em homenagem ao dia do seu aniversário (18/09).
Emocionante , você sempre me surpreende !
“🎶Salve terra formosa e bendita …”🎶
Texto muito bom!
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