Os Mestres das Armas
Passados quinhentos anos do início da colonização da terra brasilis continuamos a ver a repetição dos padrões de ocupação e dominação das riquezas nativas pelas elites supremacistas brancas.
Tomé de Souza, militar designado para promover o processo de expansão dos domínios portugueses era um militar pouco querido pelo rei D. Manoel e seu filho D. João III, mas devido sua experiencia em terras do norte da África onde sabia-se “metiam lanças em mouros e nada mais” 1 e nos povos dos Açores e Cabo Verde, então possessões do reino português para aqui foi deslocado , muito pelo fato de ser parente do Conde de Castanheira, D. Antônio de Ataíde, o criador do Plano Geral da colônia, estratégia de expansão do governo português endividada que estava e necessitava se apropriar economicamente da colônia no intuito de cobrir os gastos da coroa portuguesa.
As forças militares sempre estiveram à disposição do reino português, por ela financiada, haja visto ser patente o seu papel de defesa do poder da coroa, posteriormente a guarda do império e nos últimos cento e trinta anos foi e é o braço armado a serviço das forças elitistas assentadas no poder. Em conluio com estamento financeiro, que sempre o cercou de benesses e sempre fez vistas grossas para toda sorte de desmandos, em detrimento de sua convivência com seu miserável povo que continua vivendo socialmente com séculos de atraso. Essas forças militares historicamente tem se mostrado descompromissadas com a construção de uma nação independente, barganhando tão somente, desde tempos imemoriais benefícios corporativos.
Podemos tomar alguns exemplos tais como a criação do mito Duque de Caxias, militar que galgou o estrelato mas que claramente atendeu aos interesses da elite nacional e internacional da época, no caso a recém poderosa nação inglesa em plena vigência da revolução industrial do seculo XIX. A história nos mostra que seu poderio militar foi assentado numa trama urdida com dois outros países, no caso a Argentina e Uruguai, países que se viam acossados pelos interesses comerciais e territoriais dos ingleses em terras sulinas. Essas pressões, impôs a formação de um triunvirato ou Tríplice Aliança com o propósito de promover a recepção de seus produtos num mercado emergente. Esse processo geopolítico e comercial, impeditivo da prosperidade emergente no país vizinho, desaguou por fim na Guerra do Paraguai, sob a batuta do exército de Duque de Caxias, onde uma nação inteira, prospera, teve seu processo de crescimento interrompido, suas reservas expropriadas bem como até sua população fora dizimada, com exceção de mulheres e crianças abaixo de oito anos.2
Outra figura mítica criada pelo imaginário popular foi a do Marechal Deodoro da Fonseca, outrora partícipe do genocídio em terras paraguaias e responsável pelo golpe de estado que encerrou o império de D. Pedro II. Os inúmeros militares que o sucederam na presidência da recém formada República Federativa do Brasil manteve o perfil de intervenção nos governos sempre a serviço das elites agrárias rurais e financeiras até os dias de hoje.3
Na atualidade, o atual governo dispõe de mais de seis mil militares em cargos temporários, sustentados pelas novas benesses do poder e sustentando um governo claramente envolvido com milícias policiais criminosas, traficantes de armas, invasores de terras e engalanados saudosos dos tempos negros da história do pais como os sequiosos das práticas integralistas e fascistas da década de trinta do século XX e dos torturadores da ditadura militar de 1964 a 1985. Militares inaptos ou coniventes com o descalabro da transformação de um país emergente, de 6a economia do mundo para um simulacro de país dependente, entreguista e um estado policial miliciano.
A mostra da incapacidade foi recentemente demostrada com a ocupação do Rio de Janeiro em pleno governo do golpista Michel Temer, no ano de 2018. Tais incursões, em missões que deveriam garantir a paz tem sido desastrosa, como ocorrida nos morros cariocas bem como a história recente relata, visto na missão de paz em que o exercito brasileiro participou no Haiti. Lá, essas forças militares deixaram marcas de violência urbana, estupros, prostituição e crimes hediondos como o ocorrido no bairro Soleil. Esse ultimo crime fez com que a própria ONU solicitasse o retorno das tropas brasileiras, mesmo após um joguinho de futebol apaziguador da seleção brasileira com seu escudo amarelo, hoje signo do protofascismo contra uma famélica e destroçada seleção haitiana.
Esses são os exemplares do que seriam os guardiões da ordem e da defesa das fronteiras, frente a um inimigo nunca existente que enodoam, se é que podemos assim falar, haja visto que suas ações sempre foram se voltar contra seu próprio povo, de Tiradentes a Lamarca, de Gregório de Matos a João Goulart.
Hoje, assentado no âmago da república, encontramos um senhor das armas, um novo Tomé de Souza cercado de seu chefe da Casa dos Contos, posto Ipiranga ou Tchutchuca como queiram nominar, mas fazendo a lição bem urdida de entregar o Brasil para os novos exploradores, a velha corte corrupta do rei português, a atual elite financeira nacional em acordo com o rentismo internacional.
Enquanto isso ainda ouvimos a criançada cantar do Oiapoque ao Chuí;
“Marcha soldado O quartel pegou fogo
Cabeça de papel A policia deu sinal
Se não marchar direito Acode!Acode!Acode!
Vai preso no quartel. A bandeira nacional”
O que nós, povo brasileiro, precisamos? Escrever nessa cabeça de papel ainda em branco ou apenas conviver com o asco de Nietzsche?
Fontes:
1- História Administrativa de D. João III (Ed. UnB, 1983)
– História da Colonização Portuguesa no Brasil (Porto, Litografia Nacional)
– A Casa dos Contos (Coimbra, 1948)
2- Http://m.notimerica.com (16 de agosto. Dia del Niño)
Wagner Bomfim
20/06/2020
