Cultura – As marcas do abandono
No anedotário popular costuma-se dizer que “baiano não nasce, estreia”. No momento, a realidade é bem diversa, essa estreia está escondida atrás das cortinas, nas coxias, ou mesmo no silêncio de camarins imaginários.
A Bahia de grandes artistas plásticos, atrizes, atores, músicos, literatos do passado e do presente, que prefiro não nominar para que minha memória não falhe e, portanto, não ser injusto ao esquecer diversos nomes, por certo enfrentariam, como hoje enfrentam, enormes dificuldades de expressar através da cultura a imensa capacidade criativa do nosso povo.
As imagens que acompanham esse relato por si só dispensaria qualquer palavra, mas a inação dos órgãos públicos e sua escandalosa desídia não deve ser motivo para que o silencio que permeia a grande mídia, persista com uma acomodação bovina frente a esse descalabro. É preciso ir além cobrando a adequada aplicação dos impostos arrecadados pelo governo estadual em todas as áreas de sua competência e aqui me
detenho tão somente ao setor cultural.

Na ordem do dia é fundamental apontar a responsabilidade dos governos estadual e municipal com a manutenção dos seus equipamentos, o estímulo à produção cultural, o incentivo e apoio à classe artística, que hoje vive uma situação de penúria, sobretudo no presente com o fechamento de casas de espetáculos, museus e cinemas por conta da pandemia do Covid19.
O Governo da Bahia em publicação no DOE de janeiro de 2020, informou que destinaria R$ 182.128.000 reais para aplicação na Secretaria de Cultura. Tal importância corresponde apenas a 0,4% de todo o orçamento a ser gasto pelo estado em todas as suas áreas, executiva, legislativa e judiciária. Para efeito de comparação verificamos que a Assembleia Legislativa abocanha R$ 1,1 bilhão (um bilhão e 100 milhões de reais) com aumento de 11.4% do seu orçamento quando comparado com o exercício anterior de 2019. Outro poder que recebeu valores expressivos foi o judiciário com aumento de 5,2% do orçamento de 2019 e dispondo de R$ 2,6 bilhões para administrar em 2020.(1)
Esses números acima refletem a aplicação dos impostos arrecadados pela fazenda estadual onde destacamos a região delimitada como Portal do Sertão, que compreende uma população em torno de 2 milhões de habitantes, sendo contemplada com apenas 2,1% do orçamento total do estado para 2020.(1) A sua sede, Região Metropolitana de Feira de Santana, convive com um equipamento cujas obras foram paralisadas há exatos 14 anos. O que seria o Centro de Convenções, espaço multifuncional dispondo de salas para teatro, convenções, exposição de arte e feira de negócios, próxima a hotéis, shopping center, agências bancárias, ou seja, com os requisitos de valorização no mercado imobiliário, equipamento fundamental na segunda maior cidade do estado, de perfil comercial importantíssimo e dona de ICMS significativo para as receitas estaduais jaz, em ruínas.

Assim como outros espaços foram totalmente abandonados na cidade ( antigo restaurante Carro de Boi, formador de mão de obra para o setor de serviço e a boate Gerimun(2), projeto arquitetônico do Eng. Amélio Amorim), tempo de uma cidade longínqua, o ex futuro centro de convenções vê, sem piedade, sua estrutura ser corroída pelo tempo, ante o olhar dos seus governantes, tanto da esfera municipal quanto estadual.

A cidade que cresce de forma desordenada, violenta, é também vítima desse modelo de gestão dos recursos públicos. Seu povo segue privado de utilizar desse importante equipamento juntamente com seus artistas e produtores culturais, além da classe empresarial que tem carência de espaços de qualidade que possibilitem uma maior exposição de suas empresas e produtos de forma competitiva nesse polo logístico do nordeste do país.
Os apelos que todos esses setores fazem ao longo desses anos esbarram,como exposto acima, na insensibilidade e no total abandono de mais uma obra inacabada.
Fontes: 1- http://www.seplan.ba.gov.br/arquivos/File/loa/LOA_2020/LOA_2020_Lei_n_14184_20_de_10012020.pdf
2- http://pt.wikipedia.org/wiki/Centro_de_Cultura_Amélio_Amorim
2- http://pt.wikipedia.org/wiki/Centro_de_Cultura_Amélio_Amorim
Wagner Bomfim
18/05/2020

Muito bom
E oportuno!
Belissimo Wagner!