Por quem batem as panelas?

Por quem batem as panelas?
          O brasileiro adora tudo que vem de fora. Antes, o chic, eram as modas francesas, passando depois a importar os estrangeirismos americanos no pós guerra como ideal ou modelo de vida, sobretudo os novos richde Miami.
          Recentemente, contudo, retomamos nosso gosto de copiar e assim sendo, a classe média sudestina passou a sacrificar suas velhas panelas e caçarolas de alumínio vagabundo em revoltosos protestos nas sacadas dos prédios de Higienópolis e Jardins paulistanos para depor uma presidente eleita democraticamente, pautado entre tantos desvarios e insuflados por uma mídia venal em preconceito de gênero e de classe, substituindo-a por laranjas, desculpem o trocadilho, do neoliberalismo tupiniquim que já expõem 50 milhões de brasileiros ao desemprego e outros 54 milhões de “ empreendedores uberizados “.
          Assistimos, além da grave pandemia do vírus corona, uma disputa de narrativas políticas sobre o seu enfrentamento e com a lógica capitalista simples de ver quem mata mais e melhor os idosos e aposentados do mundo ocidental, exército industrial obsoleto para a elite financeira internacional e gerador de peso num estado mais que mínimo de seguridade social e cidadania.

          Isso posto vez que mão de obra ociosa aqui é que não falta e a essa grande burguesia não interessa ser incomodada com questiúnculas sobre seus dividendos, lucros, taxação de riqueza. Nem que para isso precise mandar sua milícia ou laranjas, desculpem mais uma vez, assentados no seu aparato de manutenção do poder, o parlamento e o judiciário, fazer menos barulho que o tilintar da bagatela de 1,2 trilhão de reais desaguando no sistema financeiro.
            E para desviar um pouco mais a atenção dos miseráveis, que só não podem é copiar coisas tipo revoltas chilenas ou argentinas e sendo assim adicionam um pequeno aumento de juros bancários pela suposta incerteza do poder do vírus vir a corroer  suas sufocadas economias, na pior contramão econômica da história mundial recente.
             Mas, além de copiar o panelaço francês ou o caçarolazo chileno/ argentino temos ouvidos seletivos e moucos para a grande massa da população, espremida em cubículos mal cheirosos das periferias das cidades brasileiras e infestados por tantas pragas seculares e distantes das sacadas e sobrados da grande e média burguesia.
             Entre o chic das panelas Creuset ou Staub que os novos rich adquirem em lojas de departamento de Miami, em suaves prestações e módicos juros do cartão de crédito e o som rouco e renitente das panelas aluminizadas e inoxidadas dos escribas do século XXI ouvimos o som de algumas moedas “concedidas” pelo congresso nacional e depositadas nos canecos de cerâmica estambocados pela ganância. Mas sobretudo, causando zumbido ensurdecedor, esse sim, continuamos a ouvir o som das risadas vindos dos salões da casa grande. A esses gerontocratas é permitido a balbúrdia e a diversão entre uma pandemia e outra. E cinicamente ainda perguntam; por quem os sinos dobram, digo, por quem as panelas batem?
Wagner Bomfim
27/03/2020
www.fotoegrafia.blog.br

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